O teu ser (T1 Ep.19-8)
Rose: Desculpem, eu… Eu preciso de ir
beber um copo de água. Não entrem até os responsáveis da manutenção chegarem,
não arrisquemos que alguém se magoe. Está bem?
Monic: Claro!
Rose: Richard acompanhas-me, se faz
favor?
Richard: Sim. – Olhou para mim como se
receasse o que faria a seguir.
Dianne: Eu vou convosco.
Monic: Dianne, precisamos de tratar
disto já. É melhor se fores tu a ligar, tens mais à vontade nesta área!
Dianne: Tens razão. Vão lá meninos,
então. Nós vamos tratando disto.
Prof. Samuel: O melhor é deixar tudo
como está até os responsáveis chegarem.
Rose: O professor tem razão. Nós já
voltamos. Não mexam em nada e tenham cuidado, por favor!
Após nos afastarmos um pouco mais da
confusão, olhei para trás, certificando-me que não estávamos a ser seguidos e,
antes que lhe perguntasse o que a minha mente não deixava calar, “como fez
aquilo!?”, o Richard disse num tom preocupado…
Richard: Eu sei o que te estás
perguntando. Foi uma descarga de adrenalina, nada mais.
Rose: Não me mintas! Um ser normal não
era capaz de parar aquela viga. E eu vi… Os teus olhos ficaram pretos! Como o
fizeste? O que eu não sei?! O que estás a esconder, Richard?
Richard: Vi-te em perigo e quis ajudar.
Por favor, não me peças mais justificações do que as que posso dar.
Rose: Eu sabia que escondias algo de
mim. Agora tenho a certeza! Não me faças isto! Não quebres a confiança entre
nós. O que quer que seja eu darei o meu melhor para compreender.
Richard: Eu… Eu não posso. Há coisas que
não me cabem a mim contar.
Rose: Do que falas? É por causa de
Mikhael?! Eu sei que ele está aqui. Ele ajudou-me! Porque não te ajudou
também?! Porque Mikhael não impediu que a viga te acertasse?
Richard: Ele não podia. Arriscou o
suficiente tentando salvar-te.
Rose: O que queres dizer? – Quando
entramos na área de convívio da sala de manutenção fui direita às garrafas de
água. Esta euforia que me percorria o corpo secara-me os lábios, ansiava por um
golo de água refrescante. – Água? – Perguntei, inclinando uma das garrafas na
direcção de Richard.
Richard: Não, obrigado! – Disse abanando
a cabeça e continuou. – O Guardião do Tempo é criado para manter o seu
equilibro. Entre as criaturas com o dom da magia a tentação é uma constante. “O
passado deve se manter para o futuro chegar. O dia que vives é apenas o
presente.”
Olhei para ele, não tendo a certeza se
percebera o que me queria dizer…
Rose: Porque não te ajudou ele? Foi tudo
o que lhe pedi!
Richard: Ajudou! Há muito. Ele fez de
mim o que sou. E estar-lhe-ei grato pela vida que me deu, pela eternidade. Aquela
viga nunca me pôs em perigo. E…
Rose: Sim?!
Richard: Prometi-lhe proteger-te com a
minha própria vida, se assim for necessário.
Queria ver mais do que a vista alcança,
queria acreditar no que escutara, mas uma parte de mim ainda resistia ao que se
apresentava. No fundo estava com medo, estava com medo de ser atraída por esta
realidade e querer ficar envolta por ela…
Rose: Não quero que faças isso!
Richard: Será minha honra!
Rose: Richard… - A vontade de chorar com
tal ideia, apoderou-se. Foi difícil segurar as lágrimas, a força que fazia era
como uma espinha entalada na garganta. Tentei engolir e então disse. - Tu não
reencarnaste, pois não?
Richard: Não!
Rose: Tu és um imortal, também! – Disse
pensativa. – Podes controlar o tempo, igualmente?
Richard: Não. Apenas o seu Guardião tem
esse poder.
Rose: Como paraste aquela viga? Não é
possível seres assim tão forte!
Richard: Mas sou.
Rose: E o teu rosto? Porque mudou? –
Baixou a cabeça, fugindo com o olhar. Claramente, não queria aprofundar mais o
assunto. – Richard? Podes contar-me, não terei medo.
Richard: Princesa…
Rose: Eu vi a beleza em ti, não te
escondas de mim.
Richard: Por favor. Agora sou eu que vos
peço. Não me fazeis dizer algo que não posso!
As suas palavras relembraram-me as
minhas próprias palavras, momentos antes da Joan me forçar a dizer o que não
queria. Senti-me traída, senti o pouco de confiança que restava entre nós quebrar.
Não queria isto para o Richard, não o queria afastar. Se Mikhael o criara, como
disse, eles seriam mais parecidos do que eu pensava, não queria que Mikhael se
sentisse assim! Eu aceitá-los-ia como são, não como os desejara ver. “Uma
criatura tão majestosa, escondida…”
Rose: Obrigado pela tua sinceridade. –
Olhei em redor e acrescentei. – Mikhael! Sei que estás aí. Obrigado!
As minhas palavras eram muito mais do
que um agradecimento, era um chamamento, uma tentativa de ele perceber que não
precisava de se esconder de mim. “Seria este o motivo que o mantinha afastado?!”
Antes disto já estava rendida aos seus encantos. Não importava a sua origem, a
sua forma, amá-lo-ia por igual tanto quanto ele se mantivesse fiel a si mesmo,
aceitando cada traço seu…
A um segundo de distância agora fazia
mais sentido do que nunca. Como o sol nasce e se põe todos os dias, como o ar
que inspiro e expiro renovando o oxigénio no meu corpo, Mikhael estaria ao meu
lado a cada passo do caminho até ao nosso reencontro. E a cada passo, sentia-me
mais eu mesma e ao mesmo tempo menos por quem me conhecia.
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