Carta de Amor (T1 Ep.17-14)


Querida Rose,
Sei que tens procurado por mim e de cada vez que o fizeste estive a um segundo de distância, sem ter a coragem de dar um passo em frente. Temendo pôr em perigo todo o caminho que até aqui tens percorrido.
A vida tem, por vezes, uma forma estranha de seguir o seu rumo. Por muito mais que seja incompreendida, por mais que nos magoe, ela é um dom, um privilégio que nem todo o tempo parece tirar-lhe o valor.
Nesta vida o nosso caminho cruzou-se mais do que uma vez… Pela primeira vez que faláramos estavas tu em busca de respostas, no Mausoléu dos meus ascendentes… Apesar do embaraço de toda a situação tinhas um brilho cativante, uma garra que nem sempre reconheceras. Desde esse dia que mantive o desejo de te voltar a ver oculto. De cada vez que te aproximavas sentia a tua presença e, sabendo que não me reconhecerias, parava, esperando tu passares. Nessa altura via-te à imagem da minha doce Anastacia. Dia após dia a semelhança entre vós atraia-me, mantendo a esperança de ser possível ela estar de volta, mas, minha pequena Rose, tu não eras Anastacia e desviava, então, o meu caminho do teu para não me deixar enganar. Porém, de cada vez que o evitava um pouco mais aprendia sobre ti. E dei-me a oportunidade de te conhecer.

Acompanhei cada dia e cada noite vossa no Festival de Verão. No último dia estavas tu, uma vez mais, admirando o concerto por ti apenas, cansada de uma semana intensa de trabalho, mas firmemente apoiando as tuas amigas. Estava receoso, no entanto, sentia a necessidade de te proteger e aproximei-me... Um infeliz incidente levou a Joan a sentir o mesmo e a única forma possível, que ela vira, de garantir a tua segurança fora apagar-te a memória dos acontecimentos. Eu sei o quanto te magoou este acto seu, devias ter a oportunidade de escolher, tinhas o direito a uma justificação! Por favor tenta entender o seu lado, quando sabes as coisas que a Joan sabe, quando vistes as coisas que ela vira e tendes o sentimento de impotência a culpabilizar-te, tentas de um tudo para que essa situação não se repita. Não por ti, porque de alguma forma tu sobreviveste, mas sim por aqueles que não salvastes, por aqueles que o dom da vida fora roubado demasiado cedo.
Embora as doces recordações que guardo não sejam partilhadas, adorei cada momento, cada minuto, sem arrependimentos. Fizeste-me sentir vivo outra vez, parte de uma família e por isso te agradeço com todo o meu coração.
Imagino que tenhas perguntas ansiando por respostas, como tive a primeira vez que vos vira. Tem em mente que não há nada que o tempo não responda, mesmo quando a demora parece alcançar o nunca.
Tendes um coração de ouro, não o deixes partir. Vive a tua vida preenchendo cada momento com alegria, com compaixão, com respeito ao próximo e ao desconhecido e verás que nada ser-te-á negado. Não percas o teu amor por este privilégio, pelo trabalho maravilhoso que estás começando, pela tua família e pelos teus amigos, por mais penoso que o obstáculo possa ser, com a força e o apoio dos que mais amas erguer-te-ás novamente.
E se a dor for em demasia e quiseres ceder, não te esqueças, eu estarei a um segundo de distância, estarei lá para te amparar. Manterei a promessa que te fiz na noite de Natal, mas por agora um segundo é o mais perto que posso estar.
Espero que um dia possas compreender a minha ausência, mas se esse dia não chegar quero que saibas que fi-lo para te proteger. Irei para sempre te proteger.

Com Amor, Mikhael

Fim do 17º Episódio – Nós Conseguimos


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