Uma visão do passado (T1 Ep.19-4)

Quanto à Joan e ao Richard muito há neste enigma que me deixa tanto fascinada quanto intrigada. Fascínio porque a forma como se estão redescobrindo é como se fosse a primeira vez que ambos se cortejassem e talvez assim o seja. Partilham um passado e uma história de amor, mas quantas formas este toma é a questão que permanece. Intrigada, pois a curiosidade quanto aos feitos de um Guardião do Fogo não deixa de fora a semelhança entre o Guardião do Tempo. Ambos são rápidos, invulgarmente rápidos, no entanto, Richard não vez o momento parar, não… Quando se moveu eu vi, foi rápido, mas eu vi. Quando Mikhael apareceu no Baile de Carnaval, tudo parou em meu redor, até o Richard. Eles não são um do mesmo.


(Quarto-Crescente) Sábado, 8 de Março
Chegamos a casa um pouco tarde para quem tem de se levantar cedo, é verdade! Já passava da meia-noite quando adormeci envolta pela minha escrita. Mas mais cedo ainda se levantara a Joan.
Pela madrugada Joan e Francis continuavam nos seus treinos. A presença de Mikhael não era exigida pois ambos sabiam onde este passava as suas noites e que, embora Richard tomasse o seu lugar durante o dia, ele não ficava descansado até a ameaça ser extinta.
Todas as noites lá estava ele, sentado no telhado, junto da janela do meu quarto, atento, satisfeito com o ouvir do bater do meu coração. Conhecia os meus desejos, sabia que na minha mente gritava pelo seu nome. Ele também o desejava… A solidão da eternidade, desejava o amparo do seu amor, há muito perdido, desejava o calor do seu toque, a compreensão das suas palavras…
Joan: Como está ele?  
Francis: Não passa assim tanto tempo aqui. Todas as noites ele se mantem vigilante. Acho que a ausência de um rosto, de um sinal é o que mais o preocupa. Não saber nem de onde, nem quando pode surgir um ataque. A sombra a quer e enquanto a ameaça permanecer, ele não descansará.
Joan: Porque não avança!? Do que espera?! Tenho todo este poder e não a poderei ajudar se não tiver um rosto. Temos de arranjar forma de levantar o feitiço de ocultamento.
Francis: Tenho tentado, mas a sua magia é poderosa. Nunca me debati tanto assim.
Joan: Eu posso ajudar! Consigo canalizar as energias dos Guardiães. Estou pronta!
Francis: Infanta, perdoe-me, mas não o podemos arriscar! Para aprisionar a Sombra é necessário toda a energia, tendes de separar as essências dos seus espíritos. Quebrar o laço. É a única forma para as proteger e completar o círculo…
Joan: Eu sei o que isso significa! Não colocarei todo o poder em mim mesma! Esse não é o caminho do nosso povo…
Francis: Libertá-los-eis, então?
Joan: Não sem ter Anastacia de volta. Ela é a fonte das suas vidas…
Francis: Rose começara o processo, como Nina previu. Senti a energia da sua pedra…
Joan: O quê? Como? Ela tem passado o tempo todo com, pelo menos, uma de nós… Ela não mencionou nada… Não é possível! Tens a certeza?!
Francis: Sim! Um de vós tem-lhe mostrado o caminho.
Joan: Mikhael?! Não! Ele escrevera-lhe uma carta, mas foi apenas isso. – Ficou pensativa por uns momentos. – Ela… O seu diário, a carta dele… Ela apaixonou-se pelas suas palavras, pelos momentos que partilharam… - Sorriu. - …Por ele!
Francis: “Sem magia ela retornará a vós!”
Joan: Sem magia!? Amor é a magia mais poderosa neste mundo, mas não sem o equilíbrio da natureza. Tudo vem em pares, não pode existir um sem o outro. E o seu lado negro é o pior.
Francis: No entanto, não deixa de ser amor.
Joan: Eu sei! Ao receber o fardo do Manto Branco, como Guardiã do equilíbrio da natureza, entendi, como nenhum outro ser, a Vida, o Mundo e as suas Criaturas! E o mal que os seus corações, quando negros, podem fazer. – Com as suas palavras voltara ao passado, entrando num estado de transe. – O meu vínculo à Natureza não me permitia interferir na Vida do Homem… Não pude usar a minha magia para os salvar… Não os consegui salvar… O Equilíbrio tem de ser restaurado… – Os seus olhos começaram a ficar pretos. Uma áurea, electrizante, cresceu à sua volta. – Porquê? Porque fazem isto?
Francis: Infanta! – Ao tocar-lhe queimou a sua mão, mas conseguiu puxa-la do transe. – Auh.
Joan: Francis, desculpa! – Ficou com um ar desorientado, mas ao ver a mão de Francis o seu instinto foi ajudá-lo. - Deixa-me… - Pousou a sua mão sobre a dele e proferiu. - Accedensque quibus non amissa. Accedensque quibus non amissa.
Francis: Obrigado.
Joan: Desculpa! Por um momento voltei ao passado. Foi como se estivesse lá… - Pausou perante os seus pensamentos e então disse. – Eu queria refazer o passado! Ela estava lá, o seu rosto… Lembro-me dela.
Francis: Não podeis fazer tal. Não podeis mudar o passado! O que viste?
Joan: Acho que vi… Eu conheço aquele rosto.
Francis: Desta vida?
Joan: Não, do passado! Na noite do ataque eu entreguei Nina nos braços de uma estranha, mesmo antes de iniciar o ritual, Richard as seguiu, implorei-lhe… Ela era luz, Nina estaria segura, senti-o. Minha doce Nina, o que a sua vida se tornou… Uma vigilante como seu pai.
Francis: Que mais vistes?
Joan: Aquela rapariga, acho que está viva também e quer dizer-me algo! - Acabara de ter uma revelação. Sem saber a sua origem ou a sua história, aquele rosto não lhe era estranho, sentiu o seu poder. Sentiu-a chamar por si. – Tenho de ir antes que me atrase, não quero suscitar perguntas entre as meninas.
Francis: Podes vir logo até cá?
Joan: Depois do jantar eu dou um jeito. Pesquisa o que puderes acerca daquela noite e… Se possível, contacta com Nina. Temos de descobrir quem é aquela rapariga.
Francis: Farei os possíveis!
Joan: Obrigado Francis.

Comentários

Mensagens populares