Olha uma segunda vez (T1 Ep.19-3)


Amor! Existe tanto nesta pequena palavra. Por ele cometemos loucuras, saímos da nossa zona de conforto, arriscamos… Haverá um propósito?! Porque nos apaixonamos por alguém que não nos corresponde de igual modo? Será tudo uma ilusão? Uma fantasia a que nos agarramos para justificar os nossos actos?!
Apesar das dúvidas que esta pequena palavra gere, havia algo que eu tinha de fazer, para o bem do Charlie e da Sofie, mas não era fácil… Ela tem-nos a nós, não precisa de sofrer em silêncio. Não consigo imaginar o quão difícil tem sido manter este segredo. Já o Charlie é extrovertido, dinâmico, mas quando sente algo mais do que amizade é o exacto oposto. Será característica dos rapazes?! Mario, Richard, Charlie… Porque não dizem o que sentem? Quanto mais esperam mais elas pensam que não querem saber dos seus sentimentos, ou pior, que não sentem o mesmo de todo.
A Sofie fora a última a deixarmos em casa, o que me recordava o assunto que tinha para falar ao Charlie. Não disse nada até chegarmos à entrada da garagem, mas antes de sairmos do carro ganhei a coragem que me faltava…

Rose: Charlie?!
Charlie: Sim!
Rose: Ontem descobri algo e acho que precisas saber.
Charlie: O que se passou? – Franziu o sobreolho expressando um olhar preocupado.
Rose: Bem, no ano passado eu vi o cartão que fizeste, pelo São Valentim, para a Sofie. Não mencionei nada, então, porque não queria criar um ambiente embaraçoso…  
Charlie: O quê? Não, não, não. Não estou apaixonado pela Sofie… Espera. Bisbilhotaste o meu quarto?
Rose: Não! Porque estás a mudar de assunto?
Charlie: Hã?! – Perguntou em tom de gozo. – Antes que vás adiante, deixa-me dizer isto. Eu não fiz o postal, escrevi uma coisa no envelope do postal.
Rose: Não estava a bisbilhotar, passei, tinhas a porta aberta, vi o postal, vi-te a escrever e pensei…
Charlie: O que viste foi eu a deixar uma marca, a minha letra, para o caso de ser visto por mais alguém que não a Sofie e assim ajudar uma amiga.
Rose: Estou perdida! Porque farias isso?! Sabias que se encontra com o rapaz da manutenção?! Quem é ele?!
Charlie: A Sofie é como uma irmã, passamos muito tempo juntos é verdade, mas para mim ela é como um dos rapazes. Nada desse jeito. – Fez uma careta engraçada. - Como descobriste? Ela contou-te?
Rose: Sabes quem é o rapaz ou não?
Charlie: Sim. Ele treina futsal comigo.
Rose: E como é que a Sofie o conheceu?
Charlie: Rose, és minha irmã e adoro-te, mas eu fiz uma promessa. Vocês são amigas, se queres saber mais terás de lhe perguntar… - Retirou a chave da ignição e deixou a porta, ao seu lado, entreaberta. - Ele é um bom rapaz.
Rose: Mas não sabemos nada acerca dele, diz-me que não achas estranho? Ela nunca o mencionou, nem uma única vez!
Charlie: Tu tens estado estranha. Sei que tens feito muito e que em muito tens de pensar, mas não precisas estar preocupada com as meninas a toda a hora. Elas não são tua responsabilidade e já são bem crescidinhas.
“Eu gostava que fosse assim tão simples.” Pensei perante a observação do Charlie.
Rose: Eu só estou tentando ajudar…
Charlie: Como com a Joan e o Richard? Sei que têm passado algum tempo juntos, mas ele não é o tipo de rapaz que peça ou precise de um cupido.
Rose: Então, tu sabes sobre a Joan e o Richard, também? – Perguntava-me que mais saberia ele. Saberia sobre nós?
Charlie: Foi uma boa jogada a dos lugares no carro. Agora dá-lhes o espaço e o tempo que precisam, para se conhecerem melhor. – Não, ele não deve saber. – E quanto há Sofie, sabes que tem as suas razões para manter o segredo. Um pequeno deslize e a mãe acabava com a banda e provavelmente a mudaria de escola. Ela o mantem não só por si, mas pelas meninas também… Sei que o compreendes.
E compreendia! Há fardos que são nossos para carregar e nossos apenas, pois não há justiça em colocar sobre os que nos rodeiam o seu peso. Apesar disso e por saber o quão sufocante um segredo se pode tornar, não deixarei a Sofie desamparada, não o terá de carregar sozinha.
Todo este tempo pensara que a reacção de ambos se devesse a um florescimento de sentimentos. Todas o pensamos. Vêem-se com frequência no laboratório, já trabalharam juntos em diversos projectos e têm muita cumplicidade no que fazem juntos. Na realidade, o Charlie andou fazendo de cupido para ajudar dois amigos!
No final é mais do que amizade, sem dúvida! São laços que se criam para além do sangue, é o respeito e partilha de um segredo de Sofie que os une em cumplicidade nos seus olhares.

Comentários

Mensagens populares