Todas as portas se fecharam (T1 Ep.17-8)
Terça-feira,
7 de Janeiro
Hoje é o dia da primeira reunião. Embora
uma parte de mim estivesse empolgada, eu estava com um nó na garganta. Não
dormi muito, os pesadelos voltaram, este sonho mau em que a natureza à minha
volta seca e se desfaz… Eu estou completamente sozinha, não há vida neste
espaço…
À hora de almoço a mãe foi-me buscar e
seguimos para o banco. Ela notou que estava um pouco abalada. Vi pelo modo que
olhava para mim que queria perguntar alguma coisa, mas não o fez. Acho que estava
nervosa e talvez receava que ao dizer algo piorasse a situação.
Ao chegarmos ao banco de imediato veio
um senhor nos receber. Era extremamente simpático, pelo seu sorriso transmitia
boas expectativas. Indicou-nos o caminho até uma sala privada onde já se
encontravam algumas pessoas sentadas. Na mesa estavam seis copos de água sobre
bases, três de cada lado, e um mais no pódio junto do quadro de apresentações.
Agora estava nervosa, não como já me
sentira na sala de aulas, conseguia controlar o meu corpo e não sentia os
suores frios e quentes. O que realmente sentia era uma dor no peito. Estava
magoada, desiludida. Não me conseguia concentrar. Apesar dos meus esforços para
não me iludir, na realidade já o estava, desde o momento que lera o meu diário.
À medida que as palavras lá escritas me revelavam uma realidade diferente da
minha, deixei-me iludir na remota possibilidade de ser verdade. Sempre
acreditei no amor e fantasiei sobre ele, sobre como seria reconhecer na outra
pessoa uma parte de nós…
Era notório, pela minha expressão, um
certo desalento, embora tentasse disfarçar com um sorriso nervoso. Não porque
não acreditasse no projecto, de todo. A verdade é que estava demasiado ferida, procurei
por ele esta manhã e tal como ontem, nada… Buscava todas as razões que
conseguia imaginar, na tentativa de compreender porque Mikhael desaparecera
assim da minha vida.
Olhando para a projecção as palavras
saiam-me automaticamente. Nem sei como o fazia, talvez as horas infindáveis em
pesquisas, análises e planeamentos para o projecto o tivessem vincado em mim de
tal forma que, embora os meus pensamentos dispersassem por outros assuntos, as
palavras fluíam. Falei de cada slide à medida que os passava, mostrando, através
dos estudos e pesquisas que realizamos, a viabilidade do projecto, os
benefícios que trará para a comunidade, como previa rentabilizar os nosso
recursos e a nossa mão-de-obra, sem nunca nos esquecermos da nossa humanidade,
das necessidades pessoais e familiares.
Quando a reunião terminou o senhor que
nos acompanhou pediu que aguardássemos na sala de espera. Eu vi um pouco de
decepção no olhar da mãe, ela esforçou-se tanto para me dar esta oportunidade,
podia ter feito melhor, devia ter feito melhor.
D. Marya: Está tudo bem Rose?
Rose: Desculpe! Eu sei o quanto se
esforçou para me dar esta oportunidade…
D. Marya: Não precisas pedir desculpa.
Quero que te acalmes e que saibas que o que tiver de ser será. Mas não sem
trabalho e dedicação. Não pareces estar concentrada. Não precisas estar
nervosa.
Rose: Eu sei! Eu farei melhor.
O desfile está cada vez mais próximo, pouco
mais de dois meses faltam até ao início da Primavera, dia que acordamos fazer o
desfile. Seria uma Celebração pelas dádivas da Natureza e pela conclusão de
meses de lavor. E esperançosamente a porta para muito mais trabalho. Sabia que ter
o apoio dos mais experientes dar-nos-ia o impulso de que precisávamos. E agora
temia ter estragado uma das melhores oportunidades que podia alguma vez ter.
A expressão no rosto do senhor do banco
era reveladora. Ao aproximar-se indicou-nos o caminho da sua secretária. As
notícias que trazia não eram boas, decerto.
Sr. Do Banco: Lamento, mas não há nada
que eu possa fazer. É um investimento elevado, e o seu retorno… a tanto tempo é
impossível financiar!
D. Marya: Nós compreendemos. Muito
obrigado pela sua disponibilidade.
Até ao final da semana, entre aulas,
treinos, preparativos do desfile e da Coleção de São Valentim, ensaios das
FairyTailors, trabalhos para casa e tantas outras tarefas, a mãe e eu ainda
fomos a mais duas reuniões. A resposta fora sempre a mesma. Negativa, baseada
na previsão do retorno do investimento.
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