O início de "Uma história de amor" (T1 Ep.17-3)
Quando chegamos perto das meninas, o
barco já estava preparado para o passeio.
Monic: Ainda bem que o barco é a energia
solar, não queremos estar perto da Dianne com remos nas mãos!
Joan: Então porquê?
Monic: Foi ela que me deu esta cicatriz.
Dianne: Não foi de propósito.
Monic: Eu sei que não, por isso estás
perdoada.
Dianne: Importaste que conte?
Monic: Não, de todo.
À medida que o barco se afastava da
plataforma a Dianne começou a sua história.
Dianne: Bem, vamos pelo princípio.
Acreditem é importante. Há toda uma sequência de acontecimentos que nos leva a
essa cicatriz. Desde pequenas que vimos aqui passar o verão, o encanto e a
simplicidade da natureza atraiam-nos como íman. Porventura a nossa própria
natureza seria o que mais ansiava por este sítio. – Disse sorrindo docemente olhando
para a Joan. – Passávamos os dias entre os animais e os campos, ajudando no que
podíamos, mas todas as manhãs os meus pais tiravam uma a duas horas para nos
ensinarem a ter segurança no lago. Aprendemos a nadar aqui, aprendemos a
importância do colete, a andar de canoa, de barco, enfim… Todos os anos um
pouco mais de responsabilidade, “já são umas meninas crescidas, tem de ser
responsáveis, dizia o meu pai”. Há uns três anos apareceu este rapaz, no seu
stand-up jet ski e desde então todas as manhãs que vínhamos no nosso passeio lá
estava ele praticando. A Monic ficou fascinada, eu estava também, mas de uma
forma diferente, senti que algo mudara nela, de repente adorava ler. Depois de
colocarmos a canoa em terra pegava no livro que trazia na mala e sentava-se na
plataforma a “ler”. E eu ficava a aprecia-la, mas não só a ela. Algo mais
mudara desde que o rapaz apareceu. Sabíamos que esta casa estava habitada, ao
passar na entrada víamos os carros, todavia foram sempre muito reservados. Até
então nunca os víramos a brincar na rua, ou a fazer almoços. Sentíamos a sua
presença, mas nunca os víramos realmente. No ano passado estávamos no nosso
passeio matinal e eu dei conta de uma criança a brincar junto da plataforma, no
entusiamo para chamar a atenção da Monic, voltei-me para trás balançando o remo
e splash… Esqueci-me por completo que o tinha na mão, ela estava completamente
vidrada no rapaz e esse foi o resultado. Três pontos no sobrolho. Mas não nos
ficamos por aqui. Quando reparei que a água estava com sangue atirei-me para a
ajudar, num instante ele pôs-se junto a nós. Devo dizer, ele tem uma voz
maravilhosa. Ajudou-nos a subir para a canoa e puxou-nos até à costa. Perguntou
se precisávamos que chamasse alguém, eu fui um pouco agressiva ao disser que
não e ele foi embora. Depois de perceber a gravidade do corte, fiquei nervosa,
com medo de a ter cegado. Gritei pela minha mãe, fui o mais rápido possível ao
barco buscar o kit de primeiros socorros. Quando a minha mãe chegou tratou da
Monic e seguimos para o centro de saúde. Na viagem de volta a Monic tentou
convencer-me a irmos agradecer-lhe, eu estava de consciência pesada e queria
ter-lhe dito que sim, mas convencia eu a esperar até ao dia seguinte. Ele estava
de capacete e não o retirou. Provavelmente não o reconheceríamos se passasse
por nós. Pensei que ficaríamos apenas com um gesto heróico e uma voz sedutora,
mas eu estava, por estranho que pareça, enganada. Ao final do dia a Monic quis
ir ao lixo e eu acompanhei-a, sabia qual era a sua intenção, mas estava com
medo que fosse lá a casa sozinha. Eu sempre tive um pouco de receio de toda
aquela área. Não conhecemos os vizinhos, parece estar abandonada, mas está lá
gente… Tudo é um pouco assustador. Quando chegamos aos caixotes, estavam a
colocar as malas na bagageira do jipe, acho que eram os seus pais. Eram tão
bonitos e jovens. De repente surgiu este rapaz, com um olhar tímido e
brilhante, vindo na nossa direcção. E pergunta à Monic se está bem. Ficou tão
vermelha das bochechas que pensei que não iria responder, uma vez mais estava
engada, mas de uma coisa tenho a certeza. Ela está apaixonada.
Monic: Não estou nada… Eu não o conheço.
Não nego que algo nele me atrai e muito… Mas não estou apaixonada!
Com as palavras de Monic dei comigo a
pensar - “Amor! O que realmente é o amor? Será possível amar alguém que não
conhecemos? Será possível conhecer alguém sem nunca o ter visto?” - Eu
compreendia-a, melhor do que queria admitir para mim mesma.
Depois do passeio de barco fomos
almoçar. O incidente da Monic e o rapaz mistério foram os assuntos principais
das conversas, porém não foram os únicos. Com o esvaziar dos pratos sabíamos
que a hora de partir estava próxima. Lavamos a loiça, arrumamos a cozinha e
fomos buscar as malas para a entrada, a qualquer momento os nossos pais
estariam aí…
Rose: Está na hora de regressarmos,
meninas. Obrigado por este fim-de-semana Dianne. A todas vós.
Dianne: Somos uma equipa e mantemo-nos
unidas, haja o que houver.
Reunimo-nos num abraço de grupo e juntas
todas dizemos “Amigas para Sempre”.
Chegou a hora de regressarmos a casa, eu
vi pelo olhar da Monic que estava triste por partir. A nossa vida não era aqui,
mas ela de facto adorava este sítio, por mil e uma razões era especial e para
ela, por uma mais. Quando passamos pela entrada da casa do rapaz podia jurar
que vi uma sombra na janela, acho que ele a observava partir… “Talvez ela não
fora a única que de repente encontrara uma paixão nova, na leitura. Talvez ele
também a encontrara, no jet ski…”
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