Mais um dia (T1 Ep.17-2)

Domingo, 5 de Janeiro
Acabamos por adormecer no chão da sala, envoltas nas mantas de flanela, embaladas pelas histórias da Joan.
Com a manhã o Domingo chegou. Está na hora de fazer as últimas despedidas das férias de Natal e regressarmos a casa, pois amanhã já é dia de aulas.
Começamos o dia por tomar o pequeno-almoço, seguindo-se o fazer as malas, organizar a casa e colocar os sacos do lixo à porta. Os contentores não ficavam muito longe, então a Monic e eu levamos os sacos até lá.
No nosso caminho começamos a ouvir o que parecia uma mota de água. A Monic conhecia os caminhos em volta do lago, então, depois do lixo tratado, segui-a por um trilho, para de mais perto observarmos.
O tempo aqui estava frio, mas não o suficiente para congelar o lago. E nele estava um rapaz com o seu fato térmico, fazendo acrobacias com o seu stand-up jet ski. Estava de capacete não dava para ver o seu rosto, mas acho que a Monic o conhecia.
Monic: Oh meu Deus, ele está aqui!
Rose: Conheces?

Monic: Apenas de vista… Ele vive nesta casa aqui ao lado. No verão estão sempre cá e a meio da manhã lá está ele a fazer as suas acrobacias. Não sabia que vinham no inverno também!
Rose: Nunca falaram? – A Monic estava com um brilho nos olhos que me revela um pouco mais do que admiração. Acho que está apaixonada!
Monic: Uma vez. No verão passado a Dianne e eu passeávamos pelo lago de canoa, ela distraiu-se a olhar para ele e quando me ia a chamar a atenção deu-me com o remo na cabeça…
Rose: Autch!
Monic: Yep, doeu, bastante. Ela estava cheia de energia nessa manhã, atirou-me directa à água. Mas passava por essa dor, com prazer, outra vez… Ele deve ter percebido pelo grito da Dianne ou pela forma que ela se atirou à água de que algo se passou. Num instante pôs-se junto de nós e ajudou-nos a sair do lago. Estava de capacete e não conseguia perceber os seus traços. Julguei que nunca reconheceria o meu herói…
Rose: Se ele estava de capacete, nessa altura e está agora, como sabes quem ele é?
Monic: Nessa tarde vim ao lixo com a Dianne. Acho que a família dele estava de saída, vimo-los a colocar as malas no jipe. E, então, sobressaiu pela parte da frente este rapaz, com um sorriso brilhante, uns olhos apaixonantes… Foi estranhamente constrangedor, contudo eu sabia que era ele. Acenou-nos e perguntou se estava melhor. Tinha um pequeno corte junto do olho, mas estava bem. E foi isso. Eles tinham ido embora ao fim do dia e eu ficara na esperança de o tempo voar até ao próximo verão para o ver. – Soltou um sorriso terno. – Mas ele está aqui…
Rose: De certeza que é ele? É um pouco difícil de reconhecer, não achas? Pode ser qualquer pessoa!
Monic: Suponho que sim, mas ele tem um jeito próprio de fazer as curvas. Repara… Quando vira à esquerda… Viste?
Rose: Sim. A sua assinatura. Porque nunca falaste com ele?
Monic: Não sei, talvez porque nunca ouve uma oportunidade. Sempre que o vira ele estava na água. Provavelmente se a Dianne não me tem acertado nunca teríamos falado naquela altura…
Joan: Hey, meninas! – Gritou a Joan da plataforma, vendo-nos junto dos arbustos. – Vamos andar de barco, venham!
Monic: Chiça Joan! Vai pensar que estávamos a espiá-lo…
Rose: Mas estávamos!
Monic: Pois estávamos. Anda, vamos ter com elas.
Rose: Já pensaste que ele pode fazer isto como competição? Se calhar vem para cá treinar!
Monic: Não, por acaso não tinha pensado nisso!
Rose: Eu ajudo-te a investigar, se quiseres.
Quando a Monic descreveu o que sentira na presença daquele estranho, eu me revi nas suas palavras. Fecho os olhos e vejo uma presença que não reconheço, não consigo evitar sentir uma certa ternura por aquela sombra. Talvez a forma como o descrevera me levaram a este sentimento, um tanto ou quanto de compaixão por este ser que se escondia nas sombras por meio milénio na esperança da sua família regressar. Embora em consciência soubesse que ele não me era família, ele não me era nada, de facto…
Eu não estava apaixonada quando a ouvi, eu não estava apaixonada quando li as minhas próprias descrições. Apesar disso conseguia perceber o seu anseio. Eu não podia ter o meu amor de volta, porque meras palavras não o fazem reaparecer, mas ela tinha uma oportunidade que eu não tivera e eu ajudá-la-ia. Se o sentimento de Monic é real, talvez ele sinta o mesmo. Talvez sejam ambos tão tímidos que nem dão uma oportunidade ao seu sentimento. Talvez…

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