Tenha tempo para dar e saberás o que é amar (T1 Ep.18-2)
Olhei para o caixote do lixo, intrigada
em relação aos bombons de Chocolate. Se Mikhael me mandara esta carta, seria
ele o autor desta oferta também? Não, não pode ser!
Tirei a caixa do lixo, o meu instinto
dizia para a deixar lá, mas a curiosidade era incontrolável. Abri-a e pela
parte de dentro da tampa estava uma inscrição – “O doce amargo da tua memória é
como a agonia do veneno nas minhas veias, ansiando por uma cura.” - A caligrafia
da carta e desta mensagem, embora semelhantes, não eram a mesma. Não fora ele
que mandara os bombons! Com a confirmação da minha suspeita sorri. Todavia, o
mistério sobre o autor deste feito permanecia.
Não levei a sério, nem a mensagem, nem a
prenda em si. Seria uma brincadeira de mau gosto, decerto! Não é incomum nesta
semana. Há sempre o engraçado a pregar partidas ou na tentativa de espalhar um
boato novo pelos corredores da escola. Apostava mais na primeira hipótese
porque não vinha assinado.
Apesar disso senti algum desprezo pela
caixa de bombons, não o consegui evitar. Eu adoro chocolate, porém o meu corpo
tem baixa tolerância à sacarose, não posso comer assim tantos doces, em verdade
nenhum é a quantidade ideal, uma vez que a maior parte da alimentação, legumes
e vegetais já possuem a sua sacarose natural. Os meus amigos sabem-no, alguém
que me admirasse sabê-lo-ia. Não é segredo, nunca como nada doce na escola. O
açúcar refinado é como veneno para o meu sangue. Quando era mais nova a mãe fazia-me
acompanhar com uma declaração do médico para mostrar no refeitório, para o caso
de ser necessário e, de facto, foi algumas vezes. Por algum tempo não
compreendi porque não podia comer as sobremesas da escola, ficava mais difícil
porque os miúdos gozavam comigo, diziam que eu era estranha, tentavam sempre
apanhar-me distraída para porem açúcar nas minhas bebidas, a única vez que
conseguiram comecei a sentir-me mal disposta, a visão ficou turva, pelo corpo
todo suava, os meus ouvidos zumbiam, as pernas seguravam-se por pouco até cair
no chão sem reacção. Do que se passou a seguir lembro-me apenas de acordar numa
maca de hospital. Desde esse dia a Joan tornou-se numa autêntica águia, estava
sempre atenta, protegendo-me das brincadeiras maliciosas. Pelo passar dos anos
esteve ao meu lado e defendia-me… Era muito mais destemida do que eu! Impondo a
sua vontade, confiante de si, conquistando a cada passo o respeito e admiração
dos demais. Com os seus desafios, mostrava-me a minha própria garra. Foi ela
que me ajudara a abraçar cada aspecto meu, a aceitar-me como sou sem receios… A
minha melhor amiga, Joan, irmã do homem que outrora amara, quão estranho é
isso?! Amara-a como uma irmã e agora havia esta distância entre nós e tudo se
resumia a ele, a Mikhael.
Aceitar que o amava com todo o meu ser,
que precisava da sua presença na minha vida, que ele era o equilibro que me
faltava não era fácil para mim, como poderia amar um estranho?! E apesar disso
sentia-o. Duas pessoas que não poderia amar de forma mais diferente, que me
magoaram mais do que as palavras poderiam descrever, no entanto, sacrificar-me-ia
por ambas.
É difícil pôr por palavras o que
significa amar, pois esta pequena palavra pode transmitir tanto de um
sentimento, que não é sentido de forma igual por cada um que o experiencia. Mas
se o tivesse de descrever, provavelmente, diria que amar é colocar as
necessidades de alguém primeiro que as nossas. É sacrificarmos a nossa vontade
em benefício do outro. E por isso não creio que alguém que se considere apaixonado,
que reconhece noutra pessoa uma parte si, não a conheça, não dedique o tempo
merecido por tal sentimento.
Quando penso no amor, no romantismo e no
que isso significa, ao pensamento surge-me “tempo”, não deixa de ser engraçado
a simplicidade do complexo da vida, porque ele é o próprio “Tempo”, o seu
Guardião... A razão que “Tempo” me surge ao pensar em “Amor” é porque o que
realmente podemos dar de valor, de importância a alguém que nos é querido é “Tempo”.
Tempo para ouvir, tempo para amar, tempo para estar, tempo para pensar, tempo
para cuidar… O “Tempo” é o bem mais valioso na vida!
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