18º Episódio - Estou Chegando (T1 Ep.18-1)
Tu
me libertaste
Olhando para a carta, repetindo cada
palavra no meu pensamento, não queria acreditar que seria isto verdade. Mas
ainda assim esta carta estava aqui, assinada por ele… Mikhael escrevera-me uma
carta na semana de São Valentim?! Após todo este tempo, após toda a dor… Após,
finalmente, aceitar que ele partira…
Era inevitável, apesar do turbilhão de
pensamentos que me ocorriam, libertar um sorriso ternurento, idealizando tal
feito. Ele sentado com papel à sua frente, não sei porquê, mas à ideia veio-me
uma pena em punho e um frasco de tinta ao lado, iluminado por um candelabro.
Talvez pelas histórias da Joan de outras épocas ou até mesmo pelo estudo da
própria disciplina “História”! Não sei… No entanto a imagem estava nítida e
sentia tal paixão com a ideia, que me aquecera o coração.
“Porquê agora?” Era a pergunta que não
me saia do pensamento e uma mais… “Qual a promessa que me fizera na noite de
Natal?!”
Peguei na almofada e retirei o diário,
folheei até à data dessa noite e li todos os meus descritos, inclusive os
posteriores. Nada estava mencionado acerca de uma promessa. Com o pesar dos
olhos, adormeci no meio da leitura e ele estava lá, nos meus sonhos…
“(…) Segura-te a mim. – Num
flash estávamos junto do gazebo. (…) Ofícios do tempo! (…) Guardião do Tempo… (…) A Joan contou-me que tu… Não podes
morrer? (…) Receio que o meu destino nesta vida esteja traçado. (…) Prometo-te! Estarei sempre ao teu lado… Se
precisares de mim, estarei lá… Nunca te abandonarei (…)”
(Lua
Cheia) Sexta-feira, 14 de Fevereiro
“AH!” Acordei um pouco inquieta, o meu
coração palpitava com paixão e com compaixão, um frenesim percorria-me o corpo,
eu vira-o! Fora como um momento fora do tempo! Este estranho no meu sonho é ele,
sentia-o… “Mikhael é o Guardião do Tempo! Ele… Ele está preso a este mundo…” Segurou-me
e num segundo estávamos juntos do gazebo. Este momento perdido no tempo é uma
memória, foi apenas por um segundo, mas senti-o tão perto, o seu cheiro, os
seus braços fortes, o seu rosto, o seu doce olhar… O seu rosto, eu conheço-o. O
som da sua voz, a sua presença… Senti-o como se ele fosse parte de mim. Eu sei
que não fora apenas um sonho. Como me lembro disto?! Só se… A Joan não pode superar
o tempo… Tem de ser isso!
Com a sua ausência dia após dia um pouco
mais de mim desvanecia, sentia-me perdida. Fantasiei com as histórias da Joan e
até acreditei serem apenas histórias, mas… Ele tinha um rosto agora, ele é
real! Amara eu alguém por quem me esquecera e me perdera de mim mesma?! Se o amara
assim como poderia tê-lo esquecido…
A luz já espreitava pela janela, a
madrugada fazia-se manhã. Não conseguia deixar esta necessidade de racionalizar
tudo ir. Tinha medo de enlouquecer, de pôr em perigo a vida das meninas.
Hoje seria o início de um longo
fim-de-semana envolta pelo tema “Amor”. Após a revelação que viera com a carta
de Mikhael seria, de facto, um longo fim-de-semana. Estava cheia de perguntas,
até agora nenhuma com resposta e as últimas buscas que fizera estavam cheias de
vazio, porém… Esta carta… Reavivava-me não só o coração como a memória, sentia
que algo se escondia nas entrelinhas.
Muito do que dizemos é entrelinhas.
Talvez um grito de esperança de sermos entendidos sem pronunciarmos o proibido.
A sua carta aos olhos do meu coração era como um código, um mapa por assim
dizer. Pegara em pequenas frases, pequenos momentos, contudo tinha uma outra
mensagem escondida. As suas palavras gritavam “Eu estarei aqui, procura-me
quando estiveres preparada… Estou esperando por ti!” E agora sabia onde o
poderia encontrar… Com os seus ascendentes!
Contudo, não o faria, não por agora.
Ambos estávamos presos a um caminho sem saída. Atraídos um pelo outro como sem
escolha. Sabia que precisava de me encontrar no meio desta história, mas não
queria ter a obrigação de ser outra pessoa, a que me viam por, não queria ser o
que não sou. Ainda que sentira verdade nas palavras de Joan, havia uma parte de
mim que continuava incrédula com possibilidade de ela, realmente, ser uma
bruxa, de as meninas e eu sermos guardiãs?! E a acrescentar a tudo isto, no último
mês experienciei mais dor do que alguma vez pensei suportar, tudo porque me
deixei apaixonar…
A outra razão porque não o faria era ele
próprio. Senti a dor nas suas palavras, compreendi que ele amara Anastacia como
sem igual e ver o seu rosto numa estranha acredito que não lhe era fácil. Podia
apenas imaginar o sofrimento porque passara, mais ainda se as minhas suspeitas
estivessem correctas. Ele nunca se perdoaria… E por isso sacrificaria uma vez
mais a sua própria vontade em benefício do meu bem. E esse sentimento eu
compreendia.
Quando me apercebi do quão fundo estava
na minha dor por não compreender as razões que o levavam a abandonar-me assim,
que fariam a minha melhor amiga apagar a sua memória em mim, entendi, então,
que a teria de aceitar e deixá-lo ir, também, e esse foi o pior sentimento,
quebrou-me por dentro, pedaço a pedaço era-me roubado, desamparo para o meu
coração fora o que sentira. Não era o que queria fazer, mas assim teria de ser,
sacrificaria a minha própria vontade para manter a sanidade, para manter as
meninas a salvo. A dor cegara-me, não via outro caminho e se continuasse por
esse os receios de Joan poderiam realizar-se…
A Monic ajudara-me a compreender um
pouco mais de mim mesma, contudo, as palavras de Mikhael libertavam-me do peso
no peito que sentia, ele nunca me abandonara, manteve a sua promessa.
À
nossa volta há tanto mais do que a vista alcança. Agora sei que ele está por
perto. – “(…) a um segundo de distância (…) Irei para sempre te proteger. Com
Amor, Mikhael”…
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