Vendo através dos meus próprios olhos (T1 Ep.16-4)

Há algo de muito errado no meio de tudo isto. Eu escrevi sobre alguém de quem não tenho qualquer recordação. Eu não estou maluca. Charlie e as meninas são a prova. Ele falou da festa de Natal e do jantar… Talvez seja por aí que deva continuar a minha leitura.
Depois do almoço segui para o quarto. Agarrei no diário, abri-o nas últimas folhas escritas. Procurei a data da festa de Natal e li todo o seu conteúdo. “(…) A Joan acha que faço parte de um conto de fadas (…) o príncipe Mikhael apaixonou-se pela sua simplicidade e generosidade (…) Gritavas coisas sem sentido (…) o teu corpo foi encontrado no fundo do penhasco… junto ao mar. (…)” O quê?!
Escrevera cada palavra da Joan, tal como ela contara a sua história. A ansiedade invadiu-me, o que descobria era absurdo. Pus-me de pé e andando de um lado para o outro continuei, então, a ler. O magnetismo a toda esta loucura não me deixava parar, queria saber mais.
“(…) Não queria ouvir mais nada, não queria sentir mais nada! Eu não conseguia estar ali. Rodeada de tanta gente e com esta vontade de gritar… Precisava da sua presença, precisava saber se era real.

Então, sai correndo do recinto. Corri e corri para sair dali… Numa coisa a Joan tinha razão, o mar tranquilizava-me. A praia era perto e não parei até lá chegar. O som das ondas deixava fluir os meus pensamentos. Olhando a lua que se apresentava por metade, senti que com ele, ela se preenchia. Queira ser a lua… Brilhante, certa do seu destino… queria que ele fosse a outra parte de mim, queria ouvir a sua voz, sentir a sua presença (…) O meu coração disparou, o meu corpo congelou, a minha voz desaparecera por instantes (…) Mikhael! (…)”
Ao embater na mesa-de-cabeceira, foi como uma chamada para a realidade. Parecia que acabara de despertar. Senti algo cair e abaixei-me para o apanhar. Com o bater da pequena caixa no chão esta abriu-se e em simultâneo um som surgiu. Segurando-a nas mãos via dois bonecos abraçados, rodopiando ao som da música. “Onde ouvira isto?!”
Sentei-me na cama. Fechei os olhos e deixei que a melodia que surgia da caixinha me acalmasse…
“Eu estava na festa de Natal, era quase meia-noite, acabara de deixar o toalete das senhoras e seguia para o salão de baile… Ele vinha na minha direcção, estendendo a sua mão me convidou a dançar… O seu olhar, fixado em mim, exercia um certo domínio. O meu fascínio era pleno pela confiança que transpunha segurando o meu tronco, delicada e firmemente. Tal é o avassalamento de emoções sobre mim, que sinto ser ele que me mantêm de pé, ser ele o meu pilar e apenas ele e eu existimos neste momento...”
Seria isto uma memória, ou apenas um sonho?!


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