Confiança respira confiança (T1 Ep16-11)

Sábado, 4 de Janeiro
O dia começou cedo. Seis e meia da manhã e já estávamos, todas, de pé. À vez cada uma tomou o seu banho, passando para o penteado e depois para a maquiagem.
Dividimos a sessão fotográfica em duas fases. Primeiro, as fotos das indumentárias completas foram tiradas aqui mais perto, pelos prados, junto dos animais e do lago. Depois de deixarmos este material em casa, aproveitamos para lanchar, reforçar as garrafas com água e seguimos para a cascata, usufruindo do trilho até ao rio para as fotos dos biquínis e dos fatos de banho. Foi um dia muito cansativo, mas divertimo-nos tanto. Juntas o trabalho desenvolvido pela marca Kat Rose Fashion completava-se.
Por momentos, o estar assim tão envolvida com o projecto fez-me esquecer todos os problemas. Vendo a Joan sorrir para as meninas, estar assim tão bem entre nós, faz-me querer duvidar do que eu própria escrevi. Eu conheço-a, ela não faria nada que pudesse magoar qualquer uma de nós. Pelo menos não intencionalmente. Cada vez que me vinha à lembrança as descrições do meu diário, eu própria arranjava uma desculpa para os seus actos e para mim isso é uma pista clara de que algo não está, definitivamente, bem. Não sou eu que os tenho de justificar! Talvez fosse o medo de perder a sua amizade que me continha. Contudo sabia, que esta dualidade dentro de mim iria ser pior do que a confrontar. Precisava de um ponto final nesta história, precisava de uma certeza.

Com as fotos, a todas as peças, tiradas regressamos a casa. A tarde ia a meio e durante o lanche com um chá quentinho revimos todo o material que tínhamos do dia de hoje. Trocamos sugestões para o catálogo e ideias para o desfile. O tempo passou por nós tão rápido, quando demos conta das horas já a noite havia chegado serena e estrelada.
Joan: Dianne, podemos comer lá fora? A noite está tão bonita, o que dizem meninas?!
As palavras da Joan foram como uma chamada de atenção, mais um dia estava a acabar e ainda não tive a coragem para lhe falar do que descobrira. Olhei-a receando o desconhecido, receando que o motivo que a levou a mudar tanto nos separasse. O que temos é algo muito especial, somos todas tão diferentes, contudo, no meio da nossa diferença encontramos pequenas características que se ligam entre nós como um efeito em cadeia reconhecendo a igualdade, por mais ínfima que seja. Se ela insistisse na mentira eu sabia que esse era o nosso destino. Nenhuma amizade sobrevive à falta de confiança.
Sofie: Por mim pode ser.
Monic: Por mim também.
Dianne: Claro! Importaste de ir buscar as mantas lá a cima?
Joan: Vou sim.
Rose: Eu ajudo-te.
Subi as escadas atrás da Joan, olhando, de quando em vez, para trás, certificando-me de que não eramos seguidas. Respirei fundo e num tom baixinho chamei por ela.
Rose: Joan?!
Joan: Sim Rose!
Rose: Quem é o Mikhael?!
Joan: Quem… - O seu olhar estava assombrado. Ao proferir o nome dele o seu sorriso desapareceu.
Rose: Eu sei que me fizeste algo para o esquecer…
Joan: Como… Tu…
Rose: Eu sei que és uma bruxa. Elas sabem-no?
Joan: Não, mas…
Rose: Porque me fizeste esquece-lo? Quem é ele? É o professor Seth, não é?
Joan: Rose, como sabes isto? Por favor diz-me! É muito importante! Alguém falou contigo?
Rose: Quem mais sabe?
Joan: Onde está o teu colar? Tiraste-o.
Rose: O quê? – Puxei do colar por entre as blusas, mas não o conseguia tirar do pescoço, a minha mente não mo deixava fazer – Está aqui! O que me fizeste Joan?
Joan: Entra, por favor! – Abriu a porta do quarto de banho e indicou-me o caminho.
Rose: Vais fazer-me esquecer outra vez, não vais? – Perguntei, receando que assim o fizesse. – Explica-me, eu tentarei compreender. Não arruínes a nossa amizade assim.
Joan: Como sabes sobre Mikhael? Do que te lembras?
Rose: Eu tive um sonho, que se repete noite após noite. Estamos no baile, dançamos… Não consigo ver o seu rosto, mas sei que é ele… Sei que estive apaixonada, mas… tudo o que me recordo é de uma sombra. – Relembrando o meu sonho, o esforço ao tentar recordar os seus traços faziam regressar as pontadas na cabeça. As lágrimas surgiam pela dor no peito. – O que pude eu fazer para merecer tamanha crueldade?!
Joan: Eu fi-lo para te proteger, não para te castigar.
Rose: Proteger do quê?
Joan: Estarás mais segura se não souberes. Por favor confia em mim!
Rose: A confiança respira confiança, Joan. Tu nem consegues ser honesta com as tuas melhores amigas sobre o que és. Como podemos confiar em ti? Tudo o que vejo são segredos.
Monic: Meninas?! Joan? Rose? – Chamou lá de baixo, junto das escadas.
Rose: Sim!
Monic: O jantar está pronto.
Joan: Estamos a descer. – Disse abrindo a porta do quarto de banho. – Rose, diz-me como sabes o que sou?
Rose: Por favor não me faças esquecer!
Joan: Diz-me!
O brilho no seu olhar era tão intenso, eu não queria dizer… Foi como se a sentisse na minha mente, compelindo-me a revelar…
Rose: O meu diário…

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