A Irmandade dos Guardiães (T1 Ep.16-14)
Sofie: O quê? Do que não nos recordamos?
Joan: O que vos fiz não foi nesta vida!
Monic: Vocês as duas querem pregar-nos alguma partida?
Joan: Não é uma brincadeira. Eu estou a falar a verdade.
Rose: O problema de se viver na mentira Joan, é que passas muito tempo envolvida por ela que quando dizes a verdade fica difícil de acreditar.
Joan: Eu sei que estás magoada Rose, apenas posso imaginar o quanto. Mas eu estou a falar a verdade e vou contar-vos porque o que fiz… Há mais de um milénio havia um reino neste mundo em que criaturas míticas e humanos coabitavam. – Com um gesto da sua mão fez as velas acenderem. – Nesse reino a família mais antiga dotada do dom da espiritualidade era responsável por todos os seus habitantes. Apesar de serem venerados pelos demais, todos eram tratados por igual e geração após geração um elemento dos quatro vales era escolhido para se juntar à Irmandade dos Guardiãs, cabendo à Grande Bruxa Branca nomear dois mais. Do Vale das Sereias, seria escolhido a Guardiã da Água. – Fez aparecer uma bola de água. - “Aqua”. Do Vale dos Lobos, seria escolhido a Guardiã da Natureza. – Pegou num pequeno vaso junto da lareira com uma flor murcha, com um gesto restaurou-lhe a verdura. – “Terra”. Do Vale das Fadas, seria escolhido a Guardiã dos Ventos. – Pegou num pouco de terra do vaso colocou na mão e deixou uma espiral de ar a erguer. – “Aer”. Do Vale do Ouro, seria escolhido o Guardião do Fogo. – Uma chama fez surgir da sua mão. – “Ignis”. A Grande Bruxa Branca escolheria dois mais. “Vitae”, a Guardiã da Vida e “Tempus”, o Guardião do Tempo.
Monic: Mesmo que fossemos os teus guardiães, não podíamos estar aqui todos. Fizeste-nos esquecer os outros dois, foi isso?
Joan: Não. Eu fiz-vos esquecer quem, realmente, são.
Dianne: Onde queres chegar com esta história?
Joan: Quero que compreendam! Quero dizer-vos a verdade. Sem mais segredos. Não o fiz antes por medo. Mas acho que estão prontas agora.
Sofie: É um pouco difícil de acreditar nesta história… Quero dizer, os truques são impressionantes, mas nós somos amigas, não iriamos te julgar pelas tuas fantasias!
Joan: Não é uma fantasia Sofie. É real. Nós estamos amaldiçoadas.
Dianne: Então diz-nos, como chegamos aqui?
Joan: Naquela época a prosperidade do nosso povo suscitava inveja e incompreensão. As ameaças eram constantes. Não eramos um povo violento, apenas lutávamos para defender os nossos. Mas nunca tirávamos uma vida. Vivíamos sobre o princípio de “Viver e Deixar Viver”. E essa era a nossa maior fraqueza aos olhos dos estrangeiros. Uma noite o castelo foi invadido pelos que se autoproclamavam de Inquisidores, estavam protegidos pela magia negra. O príncipe e a princesa renderam-se para nossa protecção, para que nós pudéssemos fugir. A princesa suplicou-me que mantivesse a essência do nosso povo viva. Antes de sairmos do castelo eu realizei um ritual, os guardiães sacrificaram as suas vidas para que os trouxesse de volta, a todos nós. “Quando o Sol e a Lua se alinharem no momento da nossa encarnação a nossa reencarnação surgirá!”
Sofie: Então, a cada quinhentos e trinta e dois anos estaremos de volta?
Joan: Sim.
Sofie: Se assim o é, esta não é a primeira vez que “reencarnamos”!
Joan: Não Sofie, não é! Há meio século, pela passagem do meu décimo quinto aniversário, eu comecei a recuperar pequenas partes de memórias de uma vida que não era a do presente. Senti cada visão em fracções de segundo. Senti o fogo, o ar, a água e a natureza com tamanha intensidade que julgava ir implodir. Com o passar dos dias fui aprendendo o que era e como aqui estava, mas também que libertara a essência dos guardiães. Em poucas semanas Aqua me encontrou, pouco depois Terra juntou-se a nós. Ao completar quinze anos a Guardiã da Vida começou o seu processo e com ela Ignis revelava a sua verdadeira natureza. Antes que a estrela se completasse a Guardiã da Vida perdeu-se de nós. Quebrando assim o ciclo.
Rose: Com perdeu-se ela quer dizer, morreu. Por suicídio. Segundo a Joan ficou maluca, não conseguia lidar com a forma como morrera da última vez…
Monic: Como morrera a guardiã na sua primeira vida?
Joan: Ela fora queimada viva. E não acho que devíeis falar assim de si própria, Princesa.
Monic: Uoh! Tu és a nossa Princesa, a Guardiã da Vida? Que puderes é que tu tens?
Rose: Na história da Joan parece que sim, mas eu não tenho poder algum, Monic.
Joan: Não é uma história e acredito que a tua mente fora envenenada, por isso sofreras tanto antes de tirares a própria vida. Alguém tentara reescrever as tuas memórias, fazendo-te acreditar em algo que não era real.
Rose: Deixa-me adivinhar… Alguém como tu, uma Bruxa! Certo?
Joan: Acredito que sim.
Dianne: Foi por isso que lhe tiraste as memórias agora, para as proteger. – A Dianne queria dizer algo mais, mas viu o medo nos olhos de Joan e conteve-se.
Joan: Sim, mas para vos proteger também. Com a morte da Guardiã da Vida, Ignis nunca mais fora visto. E as guardiãs remanescentes adoeceram, devagar a vida dos seus corpos era-lhes roubada. – Os olhos de Joan encheram-se de lágrimas. – Ainda havia vida em vós e eu nada podia fazer. Eu vi-as sofrer e nada pude fazer para o travar. Os seus corpos estavam a morrer e as suas mentes presas neles. Aprendi que esse era o preço a pagar pela estrela não estar completa. Retirei a vossa essência, absorvi o vosso poder, aprisionei as vossas memórias e pus um fim ao vosso sofrimento. - As lágrimas da Joan quebravam-me o coração. Agora entendia porque o fizera e porque lhe era difícil confessar. - Precisas estar pronta para receber as suas memórias, só então poderei vos devolver a vossa essência. Não suportarei ver-vos assim outra vez.
As meninas estavam incrédulas com o que acabavam de escutar. Havia muito mais a ser contado, mas a Dianne pressentia que algo muito maior estava por ser revelado.
Rose: Eu perdoo-te. Mas por favor não escondas nada de nós outra vez. Por mais difícil que seja, por mais inacreditável que seja…
Dianne: Nós nos manteremos sempre unidas.
Sofie e Monic: Sempre unidas.
Juntamo-nos num abraço de grupo na tentativa de consolar a Joan. Todas compreendíamos a sua dificuldade em admitir tal acto, todas vimos o sofrimento no seu rosto.
Dianne: Bem, esta é a nossa última noite aqui, vamos limpar as lágrimas e animar o ambiente. – Deu uma mão à Joan e outra à Sofie e encadeia todas nos unimos de mãos dadas – Acredito que todas tenhamos as nossas dúvidas, mas se em tempos confiamos a nossa vida a Grande Bruxa Branca, uma vez mais vos peço que o façam. Com o tempo regressaremos ao que fomos, quando ela assim o entender. – Ergueu as duas mãos e continuou. – À Irmandade dos Guardiães!
Todas: À Irmandade dos Guardiães!
Dianne tinha razão, todas tínhamos questões, queríamos saber mais. Mas ela tinha uma pergunta que lhe gritava no pensamento como um alerta.
Dianne: Vou fazer um chá para nós, a noite parece que vai ser longa. E resgatar a Joan por um momento antes que seja invadida pelas vossas questões. Anda! – Estendeu a mão à Joan e ambas seguiram para a cozinha. Olhou para a porta, certificando-se que nenhuma de nós as seguira e, então, perguntou. - Quem envenenou a Rose, está de volta, não está?
Joan: Está Dianne. Ela irá precisar de toda a nossa ajuda, ou vós estareis todas condenadas…
Fim do 16º Episódio – Só mais uma Etapa
Comentários
Enviar um comentário