17º Episódio - Nós Conseguimos (T1 Ep.17-1)
Sem
magia
Dianne: Eu sabia. Senti-o nas tuas
palavras. Qual era eu?
Joan: Aer, a Guardiã dos Ventos.
Dianne: Huh… Não deixa de ser irónico, o
vento pode tornar tudo num caos e eu gosto de tudo bem organizado.
Joan: Sempre assim o foste, o teu
temperamento e as tuas capacidades notórias foram dois, dos principais, motivos
que levaram o povo do Vale das Fadas a eleger-te.
Dianne: Sê honesta! Não precisamos que a
Princesa recupere as suas memórias para recuperarmos as nossas, pois não?
Receias a dor que nos possa causar, quando as recuperar e, se, não as aceitar,
correcto?
Joan: Sim. Tendes de vivenciar cada
memória para as recuperar… É apenas numa fracção de segundo, mas consome-te de
uma forma… Revives tudo, com muito mais intensidade…
Dianne: Entendo. Como a podemos ajudar?
Joan: Eu fiz o que pude, limpei o veneno
da sua mente. Agora será ela que terá de querer voltar para nós… Sem magia.
Dianne: Ela já está lutando. Pelo que
disse não houve qualquer magia envolvida. A Princesa tem algum diário da sua
vida passada?
Joan: Sim, mas… Os seus relatos são
lembranças envenenadas. Não ajudariam.
Dianne: O que gostava ela de fazer nessa
época, recordaste?
Joan: Ela está igual… Adorava o mar! –
Libertou um sorriso lembrando-se de Katarina, sentada num tronco debaixo de uma
árvore, junto ao mar, desenhando… - Adorava pintar! Fazia lindos quadros a
carvão.
Dianne: Aí está a nossa lacuna. Tens
alguns dos seus quadros? Provavelmente guardou algumas das suas boas memórias
neles.
Joan: Por um tempo os tive. Ela sempre
falara em como queria o seu atelier… - Os seus olhos enchiam-se de lágrimas com
as memórias que revivia. - Criei-o para ela, na esperança que recuperasse e
voltasse para nós, mas ela nunca regressou, piorava de dia para dia e eu ainda
estava a aprender o que se passava, quem realmente era… Depois do sucedido
transformei o atelier numa galeria, em sua memória. Foi há muito tempo…
Dianne: Por favor não chores. Juntas
encontraremos um caminho. Nós iremos protege-la, mesmo que para isso nos tenhas
de libertar. Cada uma de nós aceitará as consequências.
Joan: Eu sei e estou-vos grata pelos
vossos sacrifícios. Todas vós sois especiais, tendes um coração de coragem, mas
é o meu dever proteger-vos. E não vos irei falhar uma vez mais.
Dianne agarrou Joan num abraço forte e
proferiu…
Dianne: Estaremos unidas, não importa o
que aconteça!
Com o apito da chaleira a Dianne retirou
a água do lume e preparou os chás. A Joan enxugou as lágrimas, pegou num prato
e partiu algumas fatias do bolo que leváramos. E, então, regressaram à sala. O
ambiente estava um pouco mais leve, a pressão da discussão e o desconforto da
desconfiança nas revelações feitas pela Joan desvaneceram.
A noite passou com a Joan envolta por
questões das meninas. A Dianne não pareceu ter muitas dúvidas à espera de
resposta, mas a Sofie e a Monic não conseguiam conter o entusiasmo. Contudo, fiquei
surpreendida, as suas questões não se basearam nelas como indivíduos, mas sim
na época, na forma como as coisas eram feitas naquela altura… “Como podia o
mundo funcionar sem tecnologia, perguntava a Sofie”. De alguma forma, aceitamos
a realidade em que a Joan nos via. Todas presenciamos os seus actos de magia e
dentro de nós sentíamos a verdade nas suas palavras. Acredito que as meninas
entendiam como o assunto fragilizava a Joan e portanto colocaram as suas
dúvidas de uma forma mais geral.
Eu estava um pouco menos receptiva,
porque ainda sentia a mágoa da sua falta de confiança. A Joan forçou-me a fazer
algo que eu não queria e eu não tive qualquer controlo sobre mim para o evitar.
E isso magoou-me, mais do que as palavras poderão descrever... Eu compreendia
agora as suas motivações para me fazer esquecer. Para ser honesta, não
compreendia realmente! Fê-lo para proteger as meninas, para me proteger, se as
suas vidas estivessem em perigo eu faria o mesmo, pôr-me-ia numa posição em que
teria de fazer algo de que não gostasse, não mentiria sobre o ter feito, mas fá-lo-ia
e isto eu posso fazer um esforço para entender. Mas… O que tem Mikhael a ver
com esta história? Eu sei que é seu irmão e sei que numa outra vida o amei… Porque
me faria esquecê-lo… Neste tempo, nesta vida!?
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