16º Episódio - Só mais uma Etapa (T1 Ep16-1)
1.
No meu quarto
“A
resposta para o quê?!”
Recostei-me
e comecei a leitura. Ficara intrigada com a carta, mas muito mais com a
mensagem do meu diário. Palavra após palavra, folha após folha, revivia todo o
início do ano que passara. Estava cansada e o pesar das vistas convidava-me a
dormir. A ansiedade que sentia não me deixava. Queria ler mais depressa,
folhear mais rápido, contudo o receio de deixar passar algo me continha e fazia
ler linha a linha.
Queria
descobrir mais sobre Mikhael. Saber porque o mencionaria. Porque desejaria que
ele voltasse a ter uma família, que se sentisse querido e protegido e que
encontrasse o amor porque tem esperado… Quem era ele? Como o conhecera!?
Ia
já no mês de Abril e não tinha qualquer menção a seu respeito. Os relatos sobre
os dias dos meus discursos apavorados, sobre a amizade de Ryan que perdera,
sobre a insegurança que me era característica… Tudo parecia normal.
Embora
acreditasse apenas na existência fictícia de criaturas míticas, o medo de
perder a sanidade, de me perder pelas palavras de outrem, seria a única razão
que me levaria a deixar uma mensagem assim. Efeito de muitas sérias sobre o
sobrenatural, talvez…
Acabei
por me deixar adormecer. Estava exausta! A manhã em poucas horas surgiria e
sendo o primeiro dia do ano havia uma série de rituais a completar antes de o
dia terminar.
Acordei
cheia de energia. Sonhara com o desfile que está por vir e queria, o quanto
antes, falar com a Sofie e o Charlie para saber se o meu plano seria
realizável. Se assim fosse o casting estaria feito e o desfile praticamente
pronto. O maior desafio seria mesmo assegurar a disponibilidade do espaço,
encontrando os patrocínios de que precisávamos.
Tomei
um banho, vesti-me e fui buscar o pequeno-almoço. A mãe e o Charlie ainda
descansavam, então aproveitei para ler um pouco mais.
Final
de Abril, momento que me levou até aqui… “A Joan e as suas ideias.” Se ela não
me desafiasse tanto, não estaria neste caminho hoje. Estaria apenas focada nos
estudos pensando ser impossível a realização do meu sonho. Acreditando que o
único caminho possível seria o que me apresentavam, sem espaço para as minhas
próprias escolhas.
À
medida que passava pelo mês de Maio e entrava no mês de Junho deliciava-me com
a descrição dos momentos que passamos nos preparos para o desfile de abertura
do baile de final de ano e com a extraordinária sensação de ter participado.
Relembrava o misterioso aparecimento da máscara que me deu o empurram final de
coragem para subir ao palco. Revivia a descoberta deste ser de quatro patas,
dorminhoco, que preenchia os meus dias com a alegria de ser recebida em festa ao
chegar a casa… Contudo, notava já algum desconforto meu em relação a algumas
atitudes da Joan. “(…) desde o seu aniversário que a Joan anda muito estranha
(…) quererá desistir do projecto? (…) A avó da Joan não deve estar bem de saúde
e é por isso que ela anda tão estranha.”
As
menções sobre a Joan tornavam-se cada vez mais frequentes, muito mais
frequentes do que o normal. Estávamos a trabalhar no projecto e por isso
passávamos muito tempo juntas, mas algo não estava bem. Pela minha escrita
percebia que a distância crescia entre nós.
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