Este é o nosso jeito de Celebrar o Natal (T1 Ep.14-10)
Olhei
para ele, embaraçada. Sorriu para mim e, pedindo licença aos presentes com a formalidade
que lhe é característica, afastou a cadeira para se sentar.
Estava
nervosa, os amachucados do papel reflectiam o meu desagrado da sua ausência,
contudo a felicidade que sentia neste momento apagara-o por completo.
Durante
todo o jantar ele foi o centro das atenções. O Charlie desafia-o com questões
de história e de repente estava a discussão da noite estabelecida. Todos se deliciavam
a ouvir as suas descrições dos acontecimentos. A certeza com que falava, a
confiança que transmitia, era admirável. Até o meu sobrinho de oito anos, o
Renato, estava encantado com ele. Enquanto Mikhael falava fazia-lhe estas
imagens em papel para brincar.
No
fim do jantar o Renato, levantou-se a correr, foi direito a Mikhael,
segurou-lhe na mão na tentativa de o arrastar até à sala.
Renato:
Anda! Anda ver os presentes…
Celya:
Então Renato, não se puxa o senhor!
Renato:
Desculpe. - Mikhael sorriu-lhe sem o repreender ou contraria a autoridade da
minha irmã.
Guiados
pelo Renato deixamos, então, a garagem para nos reunimos na sala. É quase
meia-noite e para sua alegria, dos adultos também, a troca de prendas
aproxima-se.
(Quarto-minguante) Quarta-feira, 25
de Dezembro
Espalhamo-nos
pela divisão e enquanto uns se serviam de digestivos, outros trocavam as suas
conversas banais ao abrirem os presentes. O Renato estava maravilhado com os
seus brinquedos, quando dei por mim já me tinha puxado para a brincadeira.
Sentada
na alcatifa do chão, admirava-o junto a Charlie e Richard, entre risos e
confissões serviam os seus copos. A sua presença fazia-me sorrir por dentro.
Ansiava por uns momentos com ele. O seu destino era demasiado cruel, mas eu
faria o que estivesse ao meu alcance para lhe dar um sentido da normalidade, de
calor humano, de família.
Ausentei-me
por uns momentos da sala, quando regressei não os via. Busquei-o num relance
com o olhar. A porta que dá acesso ao jardim estava aberta, a cobertura que
tínhamos montado para estender o espaço, protegia-nos do frio. E lá estava ele.
Aprecia-lo junto da varanda, sob o brilho das luzes natalícias fazia-me
idealiza-lo como parte desta família. Porém sabia não ser possível, mais cedo
ou mais tarde teria de partir, recomeçar a sua vida noutro espaço, onde não o reconhecessem.
Teria de se preservar, deixando a sua verdade oculta. Olhou para mim, como se
acabasse de ler os meus pensamentos, senti as minhas bochechas corarem. O seu
olhar entristecido dizia-me que tinha acertado na questão. Parecia querer
dizer-me algo e antes que seguisse na sua direcção a minha mãe abordou-o.
D.
Marya: Está uma noite maravilhosa, não está?
Seth:
Sim! É muito agradável aqui.
D.
Marya: Ela é uma excelente menina. É inteligente, corajosa, generosa, cheia de
vida. Nasceu com um grande propósito e eu também… Protege-la e prepara-la.
Seth:
Eu…
D.
Marya: Não me reconheces, eu sei. Mas eu conheço a tua história, Mikhael e não
vou permitir que nada a magoe.
Seth:
Jamais a magoaria.
D.
Marya: Ela está segura perto de ti, mantem-no assim. – Sorriu, virando-se
deixou Mikhael.
O
seu olhar cruzara-se com o meu. Ele parecia confuso e eu estava curiosa por
saber o que a minha mãe lhe dissera para o deixar com essa expressão. Fui então
até à varanda.
Rose:
Está tudo bem?
Seth:
Sim! Estava admirando o vosso trabalho, notório.
Rose:
Nós somos assim e este é o nosso natal, entre família e amigos. Não é um reino
mágico como os jardins da Sra. Beatrice, mas gostamos desta magia que uma
simples decoração nos pode oferecer.
Seth:
Rose… Eu queria… - Meteu a mão direita por dentro do casaco, mas antes que
acabasse de dizer, ou fazer o que estava prestes, o Charlie interrompeu.
Charlie:
Hey, Rose, professor, vamos às cantigas? – Bem eu queria dar-lhe um natal mais
humano, mais caloroso, agora “passear pela noite dentro cantando” parecia uma
boa opção.
Rose:
Vamos?
Seth:
Sim, podemos ir.
Charlie:
Vá, venham daí. Os rapazes estão a chegar.
Rose:
Precisas de ajuda Charlie?
Charlie:
Não é preciso. Podem ir ter com o Richard, está na entrada.
Enquanto
os Charlie foi buscar os folhetos dos cânticos seguimos para o alpendre.
Richard:
Hum… Já repararam onde estão? – Com um sorriso modesto apontou para cima. Olhamos
em simultâneo… por cima de nós estava o azevinho.
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