A Festa de Natal (T1 Ep.13-13)
Seth: Milady! – Levantou-se e estendeu a sua mão. – Acredito que
tem um baile a sua espera!
Rose: Tenho sim! – Com alguma timidez pousei a minha mão na sua e
com um gesto suave ajudou-me a erguer. – Irei ver-vos lá?!
Seth: Estou de serviço! Receio não ter a oportunidade…
Rose: Por favor!? – Não o queria ter dito, mas a verdade é que com
ele por perto sentia-me segura, menos confusa.
Sorriu para mim sem assentir ao meu pedido. Percebi que não o
convencera. Acompanhou-me até ao portão. Despedindo-se de mim deu-me um beijo
nas costas da mão.
Fiz todo o caminho até casa envolvida pelos meus pensamentos.
Sentia-me mais tranquila. Não encontrei as respostas que procurava, mas acho
que encontrei o que precisava.
Ao chegar a casa, estava o Charlie sentado no sofá…
Charlie: A princesa ainda está assim?! Pensei que já tinhas saído…
Rose: A mãe?
Charlie: Está a acabar de se arrumar. Vá, despacha-te, ainda
apanhas boleia.
Rose: Obrigado Charlie.
Mais rápida de que qualquer outro dia. Tomei banho, estiquei, à
pressa, o cabelo, pus duas prisões, uma de cada lado, coloquei o vestido e
estava pronta.
Com o Charlie e a mãe seguimos para a Festa de Natal da cidade. As
meninas estão prestes a actuar, as mesas estão cheias de aperitivos e o meu
único desejo, voltar a vê-lo… Apenas como no meu sonho…
“Mikhael: Milady? – Estendendo-me a mão convidava-me a dançar. –
Dá-me esta honra?
Olhei os seus olhos, brilhavam como diamantes e a minha vontade
era ceder…
Katarina: Milorde. – Com uma vénia assenti ao seu pedido e ao som
da música dançávamos. Apenas nós aqui estávamos e apenas nós compreendíamos
este sentimento, que se apoderava a cada passo…”
Joan: Rose!? – Com o seu chamar irrompia a fantasia com a qual sonhava
de olhos abertos.
Rose: Hum…
Joan: Estás bem?
Rose: Estou Joan, o que se passa? – Será que mais alguém me viu na
casa da sua avó?
Joan: Posso falar contigo? É só por um momento.
Rose: Claro, diz!
Joan: Podes acompanhar-me até à varanda?
Rose: Agora mesmo? – As meninas estavam a tocar, mas a Joan não se
desfez da sua intenção. - Força! – Com um gesto da minha mão indiquei-lhe o
caminho.
Joan: Eu sei que não compreendes porque te tento poupar da
realidade em que vivo. Posso apenas imaginar a confusão por que estás a passar…
Rose: O Mikhael, ou professor Seth, ou como o quiseres chamar,
falou-te da minha visita de hoje…
Joan: O quê? – Frisou o sobreolho indicando não saber ao que me
referia.
Rose: O que ele é a ti mesmo? Porque te protege tão cegamente?
Joan: Rose, estás bem? Pareces estranha.
Rose: E de quem é a culpa? Minha, claro! Pus a minha confiança nas
pessoas erradas…
Joan: Eu sei que pensas assim, mas… - suspirou fundo. – Houve um
tempo em que este mundo era diferente. Criaturas mágicas vagueavam por estas
terras. O sol reflectia cada cor da natureza e com o sol a nascer no horizonte
várias eram as flores que lhe sorriam. Os jardins imensos, a uniam entre as
pessoas. Felicidade e propósito são duas das palavras que descreveriam bem essa
época. Cada um nascia com o um dom e com o seu crescer o desenvolvia. Não havia
menores, nem maiores, apenas os que cuidavam e protegiam os demais. Como a
família real, poderosos seres, dotados dos dons da espiritualidade. A eles
cabia manter o equilíbrio entre a natureza e o homem. Nesta época, uma simples
rapariga do campo cativou a atenção do príncipe. Ele estava habituado em ser o
mais cobiçado dos rapazes, fosse nas festas, nos bailes, todas as raparigas
casadoiras queriam dançar com ele, na esperança de serem a escolhida. Mas, num
desfilhe da realeza ele vira esta moça, a correr pelos campos, livre, brincando
com as crianças. Ele nunca a vira antes. Não se recordava do seu rosto em baile
algum. O porquê o intrigava e despertava a sua curiosidade... Então, o
príncipe, deixando as suas vestes ricas em adornos, disfarçou-se de camponês.
Queria a conhecer sem o peso da sua coroa. Em todos os dias da apanha ele
aparecia com roupas simples, ajudando nos afazeres das colheitas. O príncipe
apaixonou-se pela moça livre do campo. E ela amava-o com toda a sua vida. A
simplicidade havia cativado ambos e, embora o segredo do príncipe estivesse
prestes a ser revelado, o seu amor era verdadeiro e sempre acreditara poder
quebrar barreiras com este sentimento.
Rose: O que aconteceu?
Joan: Anastacia a princípio não acreditara no que ouvira, como ele
lhe podia ter mentido. Assim acreditava, mas a verdade…
Rose: …Ele nunca lhe mentira, mudou de roupas, apenas isso! – A
Joan sorriu e continuou.
Joan: Exactamente. O príncipe fez ver à sua futura princesa que o
seu amor era verdadeiro, que ele era o mesmo que ela conhecera, apenas as suas
vestes mudaram, mas se ela assim o quisesse ele deixaria os seus compromissos reais
e estaria todos os dias no campo a seu lado. Com a simplicidade e generosidade
características de Anastacia ela compreendera. O príncipe a pedira em casamento
e ambas as famílias estavam radiantes. A irmã mais nova do príncipe, a Infanta Rebecca,
acabara de ganhar uma nova irmã. Desde então tornaram-se grandes amigas. Com o
casamento real, os festejos, as boas colheitas o povo estava feliz. Mas com a
sua prosperidade e riqueza as invejas em redor cresceram. Numa noite trágica e
para sempre lembrada nas suas memórias, este povo foi perseguido, crucificado, acusado
de feitiçaria unida com as trevas…
Rose: Quem os perseguira?
Joan: Um grupo de inquisidores se erguia no oculto esperando o
momento certo para atacar. Estavam bem informados, as suas armas estavam
protegidas, os seus tiros eram certeiros… A princesa Anastacia cedera a sua
vida para salvar o seu povo e o seu amado, mas pela altura que fora capturada
já o seu príncipe se rendera. Ambos eram dotados de uma pureza e coragem sem
igual. Este povo vivia sob o princípio “Viver e deixar Viver” e para tal eram
capazes de dar a sua própria vida para que outros vivessem sob a paz.
Rose: O que lhes aconteceu? Morreram?!
Joan: O príncipe Mikhael fora forçado a ver a sua doce princesa a
ser executada…
Rose: Mikhael? – As lágrimas invadiam-me os olhos. – Anastacia… -
E então lembrei-me do momento em que Mikhael me chamara de Anastacia ao deixar-me
em casa naquele terrível fim de tarde. - Eu… Não! Eu cresci neste mundo, onde
não há magia!
Joan: Rose…
Rose: Tu és sua irmã? Rebecca?!
Joan: Sim, eu sou… E tu,
minha querida, Anastacia…
Rose: Não, não, não… Não me chames assim. A Dianne sabe desta tua história?
Joan: Sim! Não, quero dizer. Não é apenas uma história, Rose. Ela
não tem qualquer recordação!
Rose: Não tem qualquer recordação? O que queres dizer com isso? O
que lhe fizeste?
Joan: Por favor, deixa-me continuar…
Rose: Sabias que ela acha que Anastacia está em perigo? Até o
Mario me perguntou se eu sabia quem Anastacia seria! Estava com elas no dia do
acidente…
Joan: Eu não sabia, Rose!?
Rose: Eu não sou a vossa Anastácia! Eu estava contigo nesse dia, lembraste?
Joan: Rose!
Rose: Por favor Joan dá-me espaço. Eu preciso de respirar.
Joan: Diz-me o que posso fazer?!
Rose: Elizabeth… Elizabeth disse que eu tirei a minha própria vida,
que me conhecera como Katarina! Ao que se referia?
Joan: Esta não é a primeira vez que regressas para nós. Com o
repetir do alinhamento do sol e da lua da tua encarnação, a tua reencarnação
surgirá. Eu tirei-te as memórias da tua vida passada… Das tuas vidas passadas. Não
conseguia suportar perder-te outra vez desta forma tão trágica.
Rose: Outra vez? Tu não conseguias suportar perder-me outra vez?
Porque haveria de fazer mal a mim mesma?
Joan: Para recuperares as memórias das tuas vidas passadas tens de
as viver em fracções de segundos. Avassalam-te as emoções, as tuas ideias ficam
perdidas no tempo, até teres todo o curso temporário preenchido. Na primeira
vez que regressaste, foi a primeira vez para todas nós…
Rose: Todas nós?! Quem mais sofre deste feito?
Joan: Para conseguir realizar o ritual que nos manterá unidos pela
eternidade os guardiães cederam as suas vidas na noite do ataca ao castelo,
ficando ligados ao regresso do guardião da Vida… A Guardiã, Princesa Anastacia.
Rose: O que aconteceu da primeira vez?
Joan: Enlouqueceste! Gritavas coisas sem sentido. Foste forçada a
tratamento, ficaste presa no manicómio! Mas conseguiste libertar-te da Casa de
Deus. Ficava junto ao mar, a única coisa que te acalmava. Eu não cheguei a
tempo… Na tua carta despedias-te, dizendo que não suportavas viver assim, viver
na ilusão. Que ele não era real, que o fogo te consumia e que… esperavas ter o
nosso perdão. Coisas sem sentido… Nessa tarde o teu corpo foi encontrado no fim
do penhasco sobre as rochas… “junto ao mar”. – As lágrimas caiam pelos olhos de
Joan. – Pouco anos depois os restantes guardiães foram perdendo a sua
vitalidade, então aprendi o custo da magia. Retirei-vos a magia da vossa
essência e as memórias, na esperança que o vosso regresso fosse rápido e que
aos poucos aceitassem a vossa verdadeira natureza. Porém… Ao conheceres Mikhael
tudo mudou, o vosso amor tem lutado para vos juntar desde então…
Rose: Eu vejo-o nos meus sonhos! Ele é uma ilusão que tu criaste…
Joan: Não Rose, ele é real! Ele tem esperado por ti por mais de um
milénio!
Comentários
Enviar um comentário