A caminho de casa (T1 Ep.11-6)

 O silêncio reinou pela maior parte do tempo de viagem. Não sei se o que incomodava mais a Joan seria não ter privacidade para falar do assunto, ou se o próprio assunto em si. Contudo, o seu conter de palavras não durou muito mais após sairmos do autocarro…
Joan: Desculpa aquilo de há pouco. Perdi a noção do tempo, não contava despachar-me tão cedo.
Rose: Não faz mal. Tens as tuas coisas a tratar. Já estou habituada. - A Joan sentiu o meu tom de ironia, porém, optou por o ignorar.
Joan: Adiantaste muito no plano financeiro?
Rose: Não consegui adiantar muito mais, não! Apareceu a Elizabeth a pedir explicações de matemática. – Ao pronunciar o nome de Elizabeth ela nem olhou para mim. – Ela saiu pouco antes de chegares, não se cruzaram no corredor? – Estava a fazer um esforço para me controlar, mas era difícil. Imaginar que uma das minhas melhores amigas fosse capaz de tanta crueldade era difícil!
Joan: Não, não a vi. O que achas de, ao invés de trabalharmos nas peça, adiantarmos o plano então?

Rose: A minha mãe não está em casa para nos ajudar… - O meu primeiro pensamento foi, “eu não quero ficar sozinha contigo”. É estranho?! Estava aterrorizada, sem saber o que realmente pensar disto tudo. Pouco fora o tempo que tivera para assimilar tudo o que descobrira. E então lembrei-me, o Charlie está por casa. – Mas, de qualquer das maneiras, ainda nos falta um pouco até ao balanço. Está bem! Jantas lá em casa?
Joan: Sim, pode ser. Passamos primeiro na minha, está bem?
Rose: Claro!
Quando chegamos ao portão da Joan, ela subiu e eu fiquei cá em baixo. Não sei se era por estar no meio de uma rua vazia, envolta pelo escuro da noite, mas a sensação de estar a ser observada voltara. A noite trás muitos dos nossos medos ao de cima. Por vezes, as próprias sombras tomam as formas dos receios do nosso imaginário, provocando-nos temores, desconforto e alguma paranóia.
Se o delírio me acompanhava nesta espera, muito tinha a agradecer à Joan. Por mais rápida que dissesse que seria, os segundos pareciam minutos e as palavras de Elizabeth repetiam-se uma e outra vez, “dizias coisas sem sentido. Parecias estar a enlouquecer, até que acabaste por tirar a tua própria vida.”
Joan: Já cá estou.
Rose: Ah!
Joan: Desculpa, não te queria assustar.
Rose: Não faz mal. Estava embrenhada nos meus pensamentos, não dei conta de desceres. Já tens tudo o que precisas?
Joan: Sim, podemos ir.
Seguimos, então, para minha casa, que fica não muito longe da casa da Joan. Embora já estivesse acompanhada esta sensação não me deixou até depararmo-nos com o Charlie, que vinha a sair a porta de entrada em sobressalto, seguido do Miguel, ambos com os olhos aguados.
Charlie: Meninas, o que estão aqui a fazer? Não souberam?!
Rose: O quê, Charlie, o que se passa?
Charlie: O Mario acabou de me telefonar, as meninas foram hospitalizadas.
Joan: O que aconteceu?
Charlie: Nós estamos indo para lá, venham eu conto-vos pelo caminho.
De imediato os meus pensamentos focaram-se na Joan. Seria ela a causa deste mal? Teria ela ido ao meu encontro na biblioteca para finalizar o que começou? Com tais dúvidas, o meu corpo ficara imóvel por uns momentos. Medo era o que estava a sentir, não só por mim, mas por o que desconhecia e temia que pudesse vir a acontecer.
Joan: Rose!? – A sua voz despertou-me. O seu olhar transmitia preocupação, verdadeira preocupação. Eu vi a menina com que crescera e ela não era cruel.
Seguimos o Charlie até ao seu carro e de lá fomos para o Hospital.

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