Pistas ou coincidência (T1 Ep.5-11)

   Antes de a Joan sair eu pude ver, curiosidade e intriga, no seu olhar. E enquanto a observava partir no pensamento reinava uma certeza, ela sabia tão bem como eu que o que se sucedeu não fora consequência de um dia passado sob flashes, não era de todo o resultado provocado pela sessão fotográfica. Admito que fora exaustivo e que a falta de luz natural me tenha provocado um pouco de dores de cabeça, mas não me alterara os sentidos.
Ao entrar no quarto da Joan comecei a sentir-me estranha e apesar de tentar ignorar esse sentimento desconhecido, a verdade é que eu não o controlava, não me conseguia controlar e até perdi mesmo a noção, por momentos, do que fazia. Contudo, o que vira não consigo esquecer, nem o que ouvira! Eu ouvi-a pronunciar umas palavras, não tenho a percepção do idioma, embora tenha a certeza de que não era o nosso. Quando ela me tocou apareceu naquelas imagens fragmentadas, o seu cabelo estava comprido, as suas vestes eram estranhas, pareciam tiradas de um livro de história antiga, estava com um ar um pouco mais velho, mas era ela… E no instante seguinte as suas palavras foram como a quebra de um tipo de hipnotização sob o qual eu estava.

Eu conheço a Joan muito bem, sei como ela tem andado estranha e se anda assim é porque há algo esquisito se passando. Ela não gosta que a pressionem e como tal dou-lhe sempre o espaço que precisa para se organizar, ou até mesmo perceber o que ela própria sente e quando estiver preparada vir ao nosso encontro. Eu sei como ela é e ela sabe como sou. Não suporto este sentimento de que me escondem algo, este sentimento de uma pequena fenda que começa a abrir o seu caminho, perlongando-o pela incerteza e pela falta de confiança. Ela sabia que iria procurar respostas… Sim! Ela sabia-o. O que me levou a pensar que era algo que não me podia contar. Mas se não me podia contar directamente isso não significava que não teria deixado pistas. - “O que é que não estou a ver?!”
Estive tão focada no receio de desapontar as minhas amigas pela incapacidade de cumprir com o que me comprometera que tudo o que se passou de estranho neste tempo associava ao meu projecto com a Joan. O medo alterara o meu raciocínio, porém a esperança de que tudo acabara por dar certo com esforço e dedicação fazia-me querer ir mais além procurando a verdadeira causa destes acontecimentos.
Desci até ao meu quarto e sentei-me à secretária. Peguei num lápis e papel e comecei a fazer um género de calendário. Escrevi tudo o que me recordava das suas atitudes estranhas e tentei data-las consoante o que me lembrava. Depois, por mero instinto, pequei num calendário e cruzei esses dias com datas comemorativos, feriados, eventos celestiais, fases da lua, tudo o que me ocorresse que pudesse ter ligação. Até em pequenas frases como “tenho de ir”, “preciso mesmo” peguei.
Estava determinada a descobrir o que se passava, não iria esperar mais, já o tinha feito por tempo suficiente para a Joan se abrir comigo e se não o fez até agora, então, era por ser mais grave do que poderia imaginar. O único pensamento que me invadiu naquele momento fora “se ela não me pode contar, descobrindo por conta própria não é culpa sua!”

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