As tuas… Ou as minhas memórias?! (T1 Ep.5-9)

Com as fotografias escolhidas, começamos então a arrumar o “estúdio fotográfico”. Enquanto eu tratava de guardar as peças, a Joan recolheu todos os acessórios da decoração, guardando-as em caixas de papelão, que colocou junto a um canto no sótão. Os artigos da nova coleção voltaram para os respectivos sacos em que os tinha trazido. Depois de tudo organizado descemos para a cozinha.
Rose: Posso deixar os sacos aqui? – Disse colocando-os sobre a almofada do acento de uma das cadeiras da mesa da cozinha.
Joan: Sim, não tem problema. O que queres lanchar? Tenho cereais, pão com doce, iogurte e fruta?
Rose: Pode ser pão torrado com doce?
Joan: Claro que sim!
Rose: Vou só ao teu quarto buscar a minha mala. – Tinha a deixado na cadeira da escrivaninha. E com o que se passara de manhã esquecera-me dela lá.
Joan: Está bem. – Disse com a voz um pouco tremida, sem ter como justificar a sua intenção de me manter afastada do seu quarto.
Ao lá chegar o diário da Joan estava novamente no mesmo sítio.
Rose: Joan! – Ao chamar pela Joan uma vez mais algo em mim ficou diferente. Mesmo não o querendo continuei a andar em frente, o meu braço se ergueu e a minha mão devagar desceu na direcção do livro. Pousei, então, a minha mão sobre o seu diário e nesse preciso instante fui invadida por fragmentos de imagens, difíceis de perceber no seu todo, repetidos e agoniantes. Um rosto masculino, um altar, fogo, “Joan!?”, um penhasco…

Joan: Rose espera… Rose! Rose! – Quando a Joan me tocou, sentiu, exactamente, o que eu estava a sentir e viu, exactamente, o que eu estava a ver e proferiu. – Ad praesens tempus.
Demorou um pouco até conseguir recompor-me. Os flashes se repetiam uma e outra vez no meu pensamento. Mas o pior foi o misto de sentimentos e sensações que me provocaram. Senti a minha presença lá, como se vivera cada fragmento. E a intenção de desvendar mais naquele pequeno espaço de tempo doía... Não só no meu corpo como por dentro de mim, senti uma tristeza profunda, a minha alma gritava.
Rose: Mas que raio foi aquilo... – Meti a mão ao peito enquanto tentava acalmar a minha respiração. Foi horrível o que acabara de experienciar. No entanto, esperança crescia em mim, aquele rosto… Ele me transmitia calma, segurança, amor.
Joan: Rose, estás bem?
Rose: Sim, mas… O teu diário… Que imagens eram aquelas?
Joan Que imagens? – Com a noção do que eu acabara de experimentar, a Joan tentou dissuadir-me do que acabara de ver. Colocou os braços à minha volta indicando o caminho até à porta do seu quarto. – Os flashes das fotografias devem ter-te deixado a visão sensível. Anda, vamos comer. Eu depois levo-te a casa, precisas de descansar um pouco as vistas.
Rose: O quê? Não, não foram os flashes… Eu senti que… Eu estava lá e tu também. Eu vi o seu rosto, eu conheço-o… Aquele lugar…
Joan: Rose, estás no meu quarto. Temos de ter mais cuidado na próxima sessão fotográfica. Foram muitas horas seguidas. Depois de comer vais sentir-te melhor, vais ver.
Rose: Eu estou bem. – Tinha plena noção do que vira. E também a estranha impressão que Joan sabia mais do que revelava. A sua insistência em sairmos do seu quarto. A sua intenção de deixar o trabalho a meio da tarde, não era normal. Ela estava preocupada com algo. E eu senti que tinha a ver com o seu diário, o que acabara de acontecer fora fruto do mesmo. Não sabia como tinha sido possível, mas sabia o que vira e sabia que a Joan estava a esconder alguma coisa.

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