À Beira-mar (T1 Ep.6-7)
Tentei
resistir o máximo que pude, não queria olhar para trás. Mas antes de descer o
primeiro degrau não o pude evitar. Ele não estava a olhar, senti um aperto no
peito e uma tristeza que não conseguiria explicar naquele momento. “Porquê que
isso me magoou? Ele é apenas um estranho, não representa nada para mim... Como
eu para ele nada represento!”
Ele
estava a colocar umas luvas, de jardinagem talvez, sem desviar o olhar nem por
um segundo apenas... E então apercebi-me. “A ajudar com as flores”, libertei um
sorriso com o recordar das suas palavras. Quem seria este estranho, tão
generoso!?
Rose
e Kat
Depois
de sair das terras da avó da Joan, segui para casa. Com a lembrança de Seth e o
reviver de cada momento desta manhã, limpei as feridas causadas pelos arbustos,
tomei um banho e mudei de roupa.
Quando
me sentei para começar a trabalhar nos panfletos não me surgiu inspiração. Não
me conseguia concentrar, tinha imensas questões perambulando no pensamento.
Como era possível a Joan desaparecer!? Quem era aquele estranho que me lançou
tal encanto que, por momentos, até me esqueci que vira a Joan entrar no
Mausoléu, mas não a vira sair!? Tamanha era a minha inquietação, que não consegui
ficar em casa.
O
desejo oculto de voltar a ver Seth levou-me a sair, ir até à cidade e apenas caminhar
por algumas das suas principais ruas. A sua imagem perseguia o meu pensamento e
instigava a minha curiosidade em conhecê-lo. Ai como eu queria ser a sua
Rebecca e provocar aquele brilho de paixão e amor! Como queria limpar a dor do
seu olhar. Abraçá-lo, acalmando-o com a certeza de que estaria ali para ele, de
que faria o impossível para não lhe causar tal sofrimento.
Quanto
mais daquele momento recordava mais o seu rosto e a sua voz me soavam
familiares. Sem conseguir ter uma noção clara, a estranha sensação de o ter visto
antes, incitava a questão “onde?”! Seria ele familiar da Joan? Talvez… Talvez
tivesse sido no seu aniversário que o teria visto antes. Na sua festa estavam presentes
muitos rostos desconhecidos. Seria ele um?
Os
seus olhos, os seus doces olhos… Seria isto que estava a sentir amor à primeira
vista? Não, não era possível! Ele era muito mais velho e já tinha companheira,
Rebecca. Eu acredito no amor verdadeiro. Acredito que amar é mais do que uma
ilusão, mais do que apenas um desejo, o amor existe quando retribuído. E tal
como ele encontrou o seu eu iria encontrar o meu. Era o meu pensamento. Porém o
que o meu coração sentia e o que a minha cabeça idealizava eram duas realidades
totalmente diferentes. No entretanto, sonhar era tudo o que me restava.
Sentada
à beira mar, deixei o meu pensamento voar. Imaginava o seu rosto, mantendo a
esperança de que ele por ali passasse. Fantasiei com o sentir dos seus braços a
envolverem-me, num gesto de ternura. Como poderia alguém penetrar tanto na
minha alma. Com apenas um olhar cravara em mim a sua marca, um desejo que me
dominava os movimentos e a própria vontade.
Uma
sensação que não me era completamente estranha. Seth invadiu o meu pensamento
tal como quando estou a trabalhar nas minhas peças. Sei que pode parecer uma
comparação ridícula, mas sempre que idealizo algo que quero fazer, o desejo de
dar forma, de criar, domina por completo o meu pensamento, levando-me para
outro mundo e quando vi o rosto de Seth foi esta a sensação que senti, como se
por um momento estivéssemos apenas os dois num outro mundo. Vivendo uma outra
vida, nossa por destino.
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