O Grimório da Joan (T1 Ep.4-7)

   A cada passo em frente a Joan sentiu a magia daquele lugar como se a envolvesse, sentiu um arrepio espinha acima, como uma energia a trespassar-lhe, mas muito mais intensa.
Dirigindo-se ao centro do salão, olhava em volta reconhecendo o espaço tal como o sonhara. Parou junto do pódio, colocou as mãos em cima deste, onde se encontrava um livro com aspecto muito antigo e leu na sua capa - “Grimoire” - já tinha visto esta expressão nas suas pesquisas e sabia o seu significado.
Joan: Será possível… - Abriu o livro e leu a inscrição que se apresentava na primeira página, escrita a tinta preta sobre um fundo amarelo velho. - Et veritas liberabit vos - Ao acabar de prenunciar estas palavras foi invadida por flashes de memórias das suas vidas passadas, pequenas fracções de imagens que lhe revelavam uma realidade sobrenatural, a verdade da sua existência. Sem força caiu ao chão.
Sentiu amor, carinho, amizade, compaixão, medo, raiva, revolta… Sentiu cada emoção com tal ímpeto e deixou-se sentir cada fragmento da sua memória como a experienciara sem lutar contra. Todo o seu corpo estava dormente. Por um momento ficou catatónica.
Olhando os mosaicos que cobriam o chão reviveu o que agora sabia ser o seu passado procurando ir mais além do que os pequenos fragmentos que vira e sentira. Procurando uma ligação a mim, ao presente. Porém, a pouca força que permanecia no seu corpo não o permitira… Já não sentia mais a dor desses momentos, contudo, o avassalamento das emoções a enfraquecera.
Apesar da forte dor de cabeça Joan sabia que não fora um sonho, mas sim a verdade a ser-lhe revelada. Conhecia, agora, a sua essência. Joan possuía capacidades espirituais que a permitia controlar o Homem e a Natureza. Sim! Uma Bruxa!
E com este conhecimento estava pronta para descobrir todos os segredos contidos naquela Biblioteca Ancestral. Começando pelo Grimório que se encontrava à sua frente. Estava decidida a estudá-lo de uma ponta à outra, pois num dos seus sonhos sentiu que eu estava em perigo e se tinha este poder, então usá-lo-ia para o bem.
Contudo o que acontecera Joan ficou com os seus sentidos mais aprimorados, a sua destreza estava mais apurada do que nunca. Ergueu-se devagar, ainda com as pernas tremidas pela força que lhe faltava. Apoiada sobre o pódio voltou a sua atenção para o Grimório. Voltou a página com a inscrição que lera, pensando – “É preciso ter cuidado com o que leio.” – No pequeno texto que se apresentava aprendeu que este livro não fazia apenas menção a encantamentos e feitiços! Continha páginas soltas com instruções específicas de quais os livros que a Joan precisava de ler antes de sequer tentar lançar algum encantamento. Não eram simples livros, eram diários, o relato na primeira pessoa, o seu relato juntamente com o de todas as guardiãs deste Mausoléu, mais todos os diários resgatados ao longo do tempo de vários membros da sua família.
A primeira folha solta dava indicações a Joan para abrir a página quarenta e sete, assim o fez. Esta página continha um pequeno texto em latim escrito por cima do desenho de um livro, com parte das suas memórias restauradas, não foi difícil para a Joan o entender. Fixou a imagem e proferiu o texto. – “Veniat ad me, Memoria Mea.” – Ouviu o estremecer numa das prateleiras e em sua direcção veio um livro. Ao cair nas suas mãos apreciou-o, era o seu diário, ou como pensou, um dos seus diários.
A vontade de adquirir o conhecimento daquele diário a invadiu, pegou em ambos os livros e sentou-se no chão sobre o tapete. Pousou o Grimório e sobre os seus joelhos manteve o diário que invocara e folha após folha foi desvendando mais e mais sobre si e sobre as suas capacidades.
Algumas horas depois a fome fazia-se sentir, o seu estômago não parava de dar horas. Apesar de a Joan estar completamente cansada das vistas de tanto ler, não queria sair daquele lugar, não para já. Contudo, muito tinha sido o que aprendera sobre si e sobre a história da sua família nesta tarde, o entusiasmo motivava-a a querer partilhar o que acabara de descobrir com alguém, então pegou nos dois livros e seguiu para casa da avó.

Comentários

Mensagens populares