Escondido no olhar (T1 Ep.4-4)

    Não tínhamos muito tempo no dia de hoje para trabalharmos juntas no projecto, por isso durante o almoço aproveitei para discutir algumas ideias com a Joan. Como seria a loja, os artigos para vender, as coleção, dividi-las por épocas e categorias, quais os meios que utilizaríamos para divulgação… Vários aspectos desde onde comprar a “matéria-prima” até a distribuição do “produto final”.
Rose: Passei a noite de ontem a descrever, da forma mais específica que consegui, como vejo o desenvolver desta ideia de “fazermos algumas peças para vender”.
Joan: “Algumas” acho que não serão o suficiente!
Rose: Pois! Ontem à noite recebi o teu e-mail. E nesse sentido comecei a desenvolver a ideia, assentando alguns pormenores que acho importantes, para não nos perdermos a meio caminho e ficarmos sem saber o que estamos a fazer.
Joan: Muito bem, posso? – Disse apontando para o pequeno arquivo que coloquei a sua frente.
Rose: Claro! Sei que me deixei levar pela idealização de um espaço próprio, mas se trabalharmos com esse objectivo talvez tenhamos uma oportunidade de realmente vir a ter o nosso atelier. Um objectivo a longo prazo, claro!
Com as minhas palavras era de notar algum receio. Talvez por a qualquer momento esperar uma revelação da Joan! O facto de não saber se seria uma má noticia em relação a sua avó ou se seria em relação a sua vontade para com o nosso projecto, não alterava a minha previsão do resultado, era certo que acabaria, de uma forma ou de outra, por influenciar o nosso trabalho juntas.
Joan: Está tudo bem, Rose?
Rose: Sim! O que achaste até agora?
Joan: Não me referia ao trabalho. Contigo! Se está tudo bem contigo?
Rose: Estou um pouco cansada só isso. O Entusiasmo de por as mãos ao trabalho não me deixou dormir muito bem esta noite. – A vontade de confrontar a Joan e perguntar-lhe porque me mentiu estava iminente. Contive-me! Embora o seu ar misterioso instigasse a minha curiosidade o que realmente não entendia era o porquê de não se abrir comigo.”
Apesar de ter sido uma almoço tranquilo, de perceber o esforço que a Joan fizera para se manter concentrada a cada palavra minha e de demonstrar entusiasmo pelos novos desenvolvimentos, eu não consegui deixar de me sentir traída. Claramente escondia algo.
Esta não era a Joan que eu conhecia, não me consigo lembrar de um único assunto que fosse tabu entre nós. Falávamos abertamente sobre tudo! As partidas que pregávamos, as coisas que gostaríamos de experimentar, os nossos sonhos para quando crescêssemos, enfim, tudo mesmo, pois sabíamos, que, disséssemos ou fizéssemos, fosse o que fosse, não julgaríamos uma à outra. Podíamos não aceitar, mas respeitar-nos-íamos sempre.

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