Um Ser frágil (T1 Ep.3-5)

 A manhã passara. Almocei rápido, sempre de olho no gatinho e na sua forma curiosa que o levava a explorar o espaço em seu redor. Apesar da ligação entre a cozinha e a sala de jantar ser aberta por um aro, ele nunca passou este. E quando me movia de um lado para o outro, ele olhava desconfiado e devagar seguia-me, examinando os cantos aos móveis. Este seu gesto fazia-me temer ainda mais a separação. Sentia que ele precisava de mim.
Eram quase duas da tarde, uma tristeza inexplicável invadiu-me. O meu pensamento estava centrado neste pequenito. Crescia, também, a preocupação de como o poderia levar até ao veterinário. Sentia-me nervosa e um pouco inquieta. Não tinha nada próprio para o transportar e a viagem ainda era longa para o levar ao colo. O que, realmente, me preocupava mais no percurso que tínhamos de fazer era a sua reacção aos constantes movimentos e ruídos que se fariam sentir ao longo deste.
Eu estava com medo de me separar do gatinho, quão estranho poderia ser este sentimento!? Não sei se seria a perspectiva de que ele aqui teria um bom lar, de que aqui nunca seria abandonado, aqui eu poderia o proteger… O que quer que fosse que me fazia sentir assim, fazia-o por temer voltá-lo a ver como o encontrara ou pior. E este sentimento impelia-me a protege-lo.
Bebendo um pouco de água, numa tentativa de acalmar a ansiedade que sentia, lembrei-me que o Charlie não tardaria a sair para a escola… Fiz umas festinhas ao gatinho pedindo-lhe que não saísse da cozinha e segui para o andar de cima. Fui olhando para trás com receio do gatinho me seguir, mas não, ele ficou sentado na cozinha, com o seu ar amoroso, sem miar ou se mexer. Fora estranho, porém dera-me um certo alívio.
Rose: Charlie, posso?
Charlie: Entra!
Rose: Quando fores para a escola deixas-me no veterinário?
Charlie: Estás doente!?
Rose: Ahahaha, engraçadinho… Encontrei um gatinho. Já marquei uma consulta para ele e assim o Sr. Luís vê se tem algum registo, ou algum reporte de desaparecimento.
Charlie: Ok! Não há problema. A mãe já sabe que o tens?
Rose: Ainda não, mas é provável que tenha dono…
Charlie: Agora já tem!
Rose: Já agora! Não tens nenhuma caixinha que me emprestes para o levar?
Charlie: Tem caixotes na garagem. Há lá, também, umas mantas na prateleira dos cestos.
Rose: Obrigado Charlie! És um querido.
Sorriu abanando a cabeça, uma reacção típica quando fica envergonhado com algum comentário dirigido a si.
O meu irmão é o campeão do desporto, domina a tecno e é uma artista nato. Tem um estilo descontraído e meio despreocupado até. Por dentro é um doce, quando é para ajudar está sempre pronto. É muito envergonhado em questões do amor. Tem uma paixão secreta, que, só depois de o apanhar, este São Valentim passado, a fazer um postal do Dia dos Namorados, é que descobri quem era a sua musa e porquê que ele tenta “discretamente” estar por perto sem estar e porquê que ele, o senhor popularidade, fica, completamente, sem jeito quando está por perto das minhas amigas.

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